‘Na campanha a governador, não vou discutir os problemas dos gays’, diz Apolinário

Vereador do DEM que declarou apoio a Dilma e Mercadante afirma não temer expulsão, critica tucanos e, apesar de divergências, chama Marta Suplicy de 'minha senadora'

Apolinário critica desrespeito de Serra ao DEM e falta de projeto tucano em São Paulo (Foto: Juvenal Pereira/Câmara de São Paulo)

São Paulo – O líder afastado da bancada do DEM na Câmara de Vereadores paulistana, Carlos Apolinário (DEM), garante não temer uma expulsão por ter declarado apoio a Dilma Rousseff à Presidência da República e a Aloízio Mercadante ao governo de São Paulo.

Conhecido por sua militância contra mudanças na legislação por direitos de homossexuais e por fazer parte da bancada evangélica, ele afirma apoiar os petistas no estado porque quer “trazer o governo Lula a São Paulo.”

Três dias depois do anúncio do apoio a Mercadante, em junho, quatro dos sete vereadores da bancada reuniram-se para afastá-lo da liderança. Apolinário lista sua trajetória política – que inclui passagens pelo PMDB e PDT – para se afirmar tranquilo em caso de expulsão. “Primeiro, por não ser candidato agora, nem tenho muita vontade de ser candidato novamente, meu sonho hoje é ter um governo em São Paulo que pense nos mais pobres”, declara.

O vereador garante não ter problemas em dividir o palanque com uma figura como Marta Suplicy, cuja trajetória política inclui ativismo em defesa dos direitos dos homossexuais, combate à homofobia e de avanços em relação à união civil e adoção. Chamando a ex-prefeita de São Paulo de “minha senadora”, ele alega que não mistura a divergência “que, democraticamente, tenho direito de manter” com os motivos por que apoia Marta ao cargo.

“Quando ela foi prefeita, apoiei o governo, mas não deixei de ter minha posição em relação ao projeto apresentado na Câmara Federal do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não misturo as coisas”, esquiva-se.

Ele faz questão de dizer não ser contra a “figura humana do gay”, mas vê excessos – o que chamou de Ditadura Gay, em artigo publicado em junho na Folha de S.Paulo. “Meu cabeleireiro é gay, quando vou cortar o cabelo ele me beija, um rapaz que trabalhou na minha campanha de governador também, lá no salão tem uma meia dúzia de gays que me cumprimentam. Mas tenho uma posição em relação ao casamento gay que não é favorável, eu votaria contra, sem desrespeito com a ‘figura humana’ do gay”, assegura.

“Na campanha a governador, não vou discutir os problemas dos gays, mas os problemas de São Paulo, que para mim são mais importantes de serem discutidos”, avalia. Apolinário cita ainda o pedido do pastor Manoel Ferreira a Dilma, que não interfira em temas sensíveis para a bancada evangélica, mas deixe-os a cargo apenas do Legislativo. “Se uma legislação assim for aprovada, ele garante que respeitaria, mas manteria sua divergência.

Para encerrar a discussão, ele lembra que outras figuras de diferentes partidos também adotaram medidas favoráveis aos direitos de homossexuais. Como exemplo, ele cita o tratamento oferecido por Gilberto Kassab (DEM), prefeito de São Paulo, à Parada do Orgulho LGBT.

Outro exemplo, é o governador em exercício, Alberto Goldman (PSDB), que assinou decreto que autoriza o uso do nome social por servidores públicos. “Se algum irmão (tratamento dado ao companheiro de fé entre os evangélicos) vier reclamar da Marta por causa do casamento gay, vou sugerir que ele vote em branco ou espere a próxima eleição para votar em mim”, diverte-se.

Motivos

Para justificar sua debandada em relação à indicação do DEM – que compõe a coligação de José Serra (PSDB) ao Planalto e de Geraldo Alckmin ao Palácio dos Bandeirantes – ele tem a explicação na ponta da língua. E começa com uma confissão: “Até 2002, não votei no Lula por preconceito, por achar que, como ele não fez faculdade, veio do Nordeste e era torneiro mecânico, ele não estava preparado para ser presidente da República.”

Até 2006, Lula demonstrou, na visão de Apolinário, que tinha condições de ser um grande presidente, que deverá ser lembrado como um dos maiores, senão o maior presidente da história. “Estou na página 91 do livro do Mercadante (Brasil: A Construção Retomada), e tem tanto resultado que eu não sabia, que o Lula nem explora… É muita coisa boa em um governo só”, louva.

Sobre ter sido integrante da bancada de apoio do governo FHC na Câmara dos Deputados, ele se explica: “Quando terminaram os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, eu achava que ele tinha se saído bem. Mas em uma comparação com o governo FHC, que fala meia dúzia de idiomas, dá palestras de US$ 50 mil, o governo Lula foi melhor.”

Ele afirma esperar que Dilma mantenha o que o atual presidente começou e avance, “que não seja apenas uma gerente. O governo do PT foi um bom governo para o país” , conclui.

Apolinário inclui ainda, na lista de motivos que o levaram a se rebelar contra a orientação partidária, o comportamento de Serra na definição de seu vice. “Ele colocou o Indio como vice não por causa dele, nem dos democratas, mas por causa dos três minutos (no horário eleitoral). Não foi reconhecimento à importância do partido, mas para não perder o apoio”, reclama.

Alinhado

Em termos estaduais, a situação é um pouco distinta. “Conheço os tucanos desde quando eram do PMDB e, por uma briga com o Quércia, fundaram o PSDB. Ao final deste governo, são 16 anos à frente do estado (de São Paulo), e a grande obra apresentada é o Rodoanel, cujos recursos vieram, em mais de 30%, do governo federal.

Alinhado ao discurso de Mercadante, ele diz que a política do PSDB é “pedágio e presídio”. “Estive com Mercadante em Presidente Prudente e, em uma área de 100 quilômetros, são 22 presídios. Mas dúvido que alguém aponte qual é a política séria de segurança pública que os tucanos fizeram.”

Desde uma visita do candidato petista à casa do democrata com o convite para debandar da chapa tucana, a aposta de Apolinário é que Mercadante “traga o governo Lula para São Paulo, quer dizer, as ideias”.

“Meu sonho socialista, de quem conviveu com o (Leonel) Brizola, que acredita no socialismo democrático, seria ideal para o Brasil. Um governo Mercadante seria mais povo, mais popular, governar mais para o pobre do que para o rico”.