Combatente

Morre Derly Carvalho, um dos principais resistentes à ditadura

De uma família dedicada à resistência, o mineiro Derly foi metalúrgico no ABC, preso e trocado por embaixador. Também morreu o delegado Pedro Carlos Seelig, o “Fleury dos pampas”

Cido Faria/Facebook
Cido Faria/Facebook
Derly em visita ao antigo Dops: memórias de resistência

São Paulo – Nascido em Muriaé (MG) perto do final de 1939, Derly José de Carvalho chegou aos 20 anos a São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde depois de passar por vários locais foi trabalhar na Villares. Foi um dos pioneiros do Sindicato dos Metalúrgicos. Militou no Partidão, depois no PCdoB, até chegar à Ala Vermelha, já em 1968, e foi preso pela ditadura no ano seguinte e ficou encarcerado durante um ano e sete meses. Esta quinta-feira (10) foi um dia de homenagens a Derly, que morreu durante a madrugada, aos 82 anos.

“Uma pessoa com um grande coração, uma grande inteligência e grande força. (…) Viveu como um guerreiro e morreu como um guerreiro, lutou até seu último segundo de vida”, escreveu a neta Camille Nicole, em nome da família. “Toda a sua luta valeu a pena, meu avô querido.” O enterro será realizado amanhã (11), às 9h, no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo.

Era uma família dedicada à resistência. Além dele, seus irmãos Devanir, Joel, Daniel e Jairo estiveram na militância política. Derly foi um dos 70 presos políticos “trocados” pela liberdade do embaixador suíço Giovanni Bucher, em 1970. Viveu no Chile (até o golpe de 1973) e na Argentina, depois foi para a Europa.

Segundo o também ex-preso político Ivan Seixas, Joel e Daniel foram fuzilados, apesar de desarmados, em uma emboscada do Centro de Informações do Exército (CIE) em Foz do Iguaçu (PR). Já Devanir, o Comandante Henrique, do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), foi torturado durante três dias no Dops de São Paulo. Apenas Jairo sobreviveu e mora na França. “Todas as homenagens a esse combatente serão poucas”, escreveu Ivan sobre Derly.

Na lista da Comissão da Verdade

Foi cremado ontem (9) o corpo de Pedro Carlos Seelig, 87 anos, ex-delegado do Dops no Rio Grande do Sul. Ele integra a lista da Comissão Nacional da Verdade de responsáveis por graves violações de direitos humanos durante a ditadura. Chegou a ser chamado de “Fleury dos pampas”, referência ao delegado Sérgio Paranhos Fleury, de São Paulo.

Seelig esteve à frente do sequestro dos uruguaios Universindo Díaz e Lílian Celiberti, em 1978, em Porto Alegre. Uma ação de duas ditaduras sul-americanas, unidas na Operação Condor. O caso é narrado em detalhes no livro O sequestro dos uruguaios, do jornalista Luiz Cláudio Cunha (L&PM Editores, 2008).


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