Mensalão: Luiz Carlos Barreto comanda abaixo-assinado ‘em defesa do Estado democrático’

Produtor diz que documento contra a politização do julgamento do mensalão já reúne cerca de 250 nomes de intelectuais, escritores e artistas como Niemeyer, Mautner e Hildegard Angel

Barreto espera finalizar até quarta-feira o texto-base do abaixo-assinado que será enviado ao STF (Foto: Valter Campanato. Arquivo Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Principal articulador do abaixo-assinado contra a politização do julgamento do mensalão, que já reúne cerca de 250 nomes de intelectuais, escritores e artistas, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto passou os últimos dois dias entre o Rio de Janeiro e São Paulo para conversar com colegas e tentar dar maior amplitude à iniciativa. Em conversa exclusiva com a Rede Brasil Atual, ele diz que pretende divulgar a versão oficial do documento até quarta-feira (26), quando espera já ter conseguido o apoio de 300 nomes. Em seguida, o abaixo-assinado será enviado ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres Britto.

“Temos cerca de 250 pessoas que já concordaram com a eventual decisão de se enviar um abaixo-assinado. O texto-base foi enviado a todo mundo para consulta e está aberto a sugestões que serão compiladas até amanhã (25) para que possamos chegar a um consenso, a um texto o mais consensual possível”, diz Barreto, antes de admitir que ainda se discute entre os signatários “se vale a pena ou não realmente enviar” o documento ao STF.

Barreto adianta alguns pontos do texto do documento. “Há uma série de pressões externas sobre o STF, e nós achamos que o julgamento deve ser feito com menos sentido de espetáculo. Achamos que existem pré-julgamentos que vêm sendo feitos foras dos tribunais, tentando influenciar a opinião pública. Existe uma série de distorções que nós – pelo menos os mais vividos – percebemos que formam um filme que todos sabemos como vai acabar. Esse tipo de exaltação ao estado de exceção, à caça às bruxas, isso tudo nos deixa antever um final não muito bom”, diz.

Amigo de muitos anos de José Dirceu, Barreto afasta a tese, veiculada por alguns veículos da grande mídia, de que o abaixo-assinado fará menção específica ao caso do ex-ministro da Casa Civil, apontado como mentor intelectual do mensalão pelo Ministério Público. “Trata-se de um abaixo-assinado – e não de um manifesto, como foi publicado erroneamente na imprensa – feito por pessoas que estão defendendo um princípio, que é o estado democrático de direito. Não estamos defendendo nenhuma pessoa, nenhum réu”, diz.

Outro aspecto do documento, segundo Barreto, é servir como contraponto a uma visão passada pela mídia conservadora de que existe no meio intelectual e cultural uma unanimidade favorável aos rumos dados até aqui ao julgamento: “Se os princípios do Estado democrático de direito não forem devidamente observados, isso nos ameaça a todos. No momento em que você quebra uma regra como, por exemplo, a presunção da inocência, abre-se um perigoso precedente. Se não houver provas suficientes, cabais e materiais, além das testemunhais, é preciso que se observe a jurisprudência já afirmada nesse sentido”, diz.

Barreto brinca com a expectativa criada na imprensa quanto ao conteúdo do texto que acompanhará o abaixo-assinado. “O documento é muito sucinto. Os meios de comunicação serão os primeiros a serem avisados, logo após os ministros. Não é um documento clandestino nem ilegal”, diz. Além do produtor, assinam o documento o arquiteto Oscar Niemeyer, a jornalista Hildegard Angel, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o sociólogo Emir Sader, os cantores Alceu Valença e Jorge Mautner e os atores José de Abreu e Paulo Betti, entre outros.