Eleições

Marina empurra para limite máximo decisão sobre mudança de partido

Ex-senadora admite que divisão dentro da Rede dificulta definição entre candidatura à Presidência em 2014 e manutenção do projeto partidário, e diz que vai buscar sigla que preencha perfil programático

Pedro Ladeira/Folhapress

Marina diz que a discussão sobre a entrada em algum partido não representa conflito ideológico

São Paulo – A ex-senadora Marina Silva decidiu deixar para o último momento a tomada de decisão sobre a filiação a um novo partido e a candidatura à Presidência da República em 2014. Hoje (4), após horas de reunião em Brasília, ela expôs durante entrevista coletiva que divisões dentro da Rede Sustentabilidade não permitiram chegar a um consenso, e a resposta dela sairá apenas amanhã, data-limite da Justiça Eleitoral para se filiar a um partido a tempo de participar das eleições do próximo ano.

A ex-petista disse que verifica “na realidade política” brasileira aqueles que estão identificados com as ideias que entende representar. “O que vou dizer é que ainda estou no processo de decisão”, disse, reagindo em seguida à reclamação de um repórter. “Não, não é ‘fala sério’. Exatamente porque é sério é que ainda tenho uma longa noite e um dia. Então, estou no processo decisório.”

Ontem, por seis votos a um, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o registro do partido de Marina Silva, que não atingiu o número necessário de assinaturas legítimas. A Rede, criada após a saída do PV, conseguiu reunir 442 mil adesões, 50 mil a menos que o exigido pela legislação eleitoral. A candidata derrotada ao Planalto em 2010 fez uma cobrança aos cartórios, a quem responsabilizou pela dificuldade na obtenção do registro. “Houve uma decisão na planície de cassar o registro da Rede Sustentabilidade. De sorte que continuamos a persistir no nosso projeto de um partido que seja para além da disputa de eleição”, acusou. “Coletar assinaturas não foi o problema. Coletamos dentro do prazo, com critérios nossos, altamente rigorosos, num trabalho hercúleo. Descartamos 220 mil fichas.”

Ela destacou que considera a Rede um partido já formado, e que o registro eleitoral é mera formalidade. A respeito da dificuldade na tomada de decisão, Marina explicou que está em busca de convergência com alguma sigla. “Minhas decisões serão programáticas. Não terão caráter pragmático”, disse. “Existem muitas pessoas que estão se dispondo a uma nova lógica política. Que é a lógica de assumir posição. Qual a posição em relação ao Brasil que queremos? Um Brasil que faz governabilidade com distribuição de pedaços de Estado para dominação da política com certeza é contra isso.”

A ex-senadora admitiu que a hesitação se dá por conta de indefinições dentro do próprio partido sobre o que é mais importante: candidatar-se agora ou manter o foco na criação da sigla. “O que quero é ter uma decisão coerente com o legado da Rede, com a afirmação de que o que buscamos não é um projeto de poder. É um projeto de país, uma visão de mundo”, argumentou. “Sabemos que a verdade não está com nenhum de nós. Ela está entre nós. É dessa convicção profunda de que a verdade está entre nós que temos de ter muita responsabilidade.”

Hoje, PPS e PTB convidaram Marina a ingressar na sigla, somando-se ao PEN, que já era cogitado pela candidata. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, teve esta semana a intenção de atrair o tucano José Serra frustrada. Ele esperava que o ex-governador de São Paulo, insatisfeito no PSDB, pudesse migrar e reforçar a posição da sigla em 2014, mas não teve sucesso.

O deputado estadual paulista Campos Machado, secretário-geral do PTB, quer que Marina dispute as eleições do ano que vem pela sigla. “Ela é a Getúlio Vargas de saia. O programa do PTB –com a questão das leis trabalhistas, nacionalismo, Petrobras– está em total conformidade com o que ela vem pregando”, disse.

No Senado, Pedro Simon (PMDB-RS), que deve se mudar para a Rede, lamentou a decisão do TSE, ironizando que o deputado Paulo Pereira da Silva (SP) tenha conseguido na última semana fundar o Solidariedade. “Podemos estranhar que o Paulinho da Força, sozinho praticamente, tenha conseguido as assinaturas. Podemos estranhar que os donos do frigorífico aqui de Goiás, que ninguém sabem quem é nem quem não é, conseguiram as assinaturas. Mas alguém tem alguma dúvida de que a Marina conseguiu as assinaturas?”