Bispo no xadrez

Marcelo Crivella é preso sob acusação de participação em esquema de propina

Político do Republicanos foi detido na manhã desta terça-feira (22) por operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro que investiga “QG da propina” na prefeitura

Ascom
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Para o MP, trocas de mensagens mostram que o prefeito tinha conhecimento das ilegalidades que eram cometidas no município

São Paulo – A nove dias do fim do mandato, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira (22) no condomínio onde mora na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. Ele é alvo de uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro que investiga um esquema de pagamentos de propina para a liberação de contratos na prefeitura, conhecido como “QG da propina”. 

Também foram presos o empresário Rafael Alves, amigo de Crivella, apontado como o operador do esquema de corrupção, e o delegado aposentado Fernando Moraes. De acordo com o jornal O Globo, a decisão da desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita também determinou prisão preventiva para os empresários Cristiano Stokler e Adenor Gonçalves. 

Para o MP, as trocas de mensagem do prefeito indicam que ele tinha conhecimento das ilegalidades cometidas no município. A investigação está baseada na colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy. Preso pela operação Câmbio, Desligo, no ano passado, o delator apontou Rafael Alves como o responsável pela cobrança de propinas na empresa municipal de turismo, a Riotur. Até março deste ano, a companhia era presidida pelo irmão do empresário, Marcelo Alves. 

Viabilizando o esquema

Segundo Mizhary, Alves cobrava propinas de empresas contratadas pelo município ou que tinham dívidas a receber de gestões anteriores. Ele também afirmou que o suposto operador do esquema lhe entregava semanalmente cheques oriundos do desvio para trocá-los por dinheiro vivo. Ainda segundo o doleiro, Rafael Alves teria se tornado um dos homens de confiança de Crivella ao articular doações para sua campanha eleitoral de 2016. O jornal Folha de S. Paulo indica que a proximidade com o empresário colocou o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus como um dos alvos da apuração. O conteúdo integral do inquérito está sob sigilo. Mas, de acordo com veículo, a apuração conta com fotos de Crivella e Alves caminhando e conversando na Barra, onde moram.

O jornal O Globo também aponta que o empresário teria emplacado o irmão na presidência da Riotur para viabilizar o esquema de corrupção. 
Logo após ser levado preso, Crivella declarou à imprensa que a investigação seria uma “perseguição política”. Ele e os demais acusados passarão hoje por audiência de custódia.

O prefeito, que encerra o mandato no dia 31 de dezembro, concorreu à reeleição com apoio do presidente Jair Bolsonaro, mas foi derrotado por Eduardo Paes (DEM). Com a prisão, assume interinamente o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM). Seu vice-prefeito Fernando Mac Dowell morreu em maio de 2018. 

Ao longo de seu mandato, Crivella sofreu nove pedidos de impeachment, rejeitados pela sua base de apoio na Câmara. Entre eles, estava a denúncia da atuação do grupo “Guardiões do Crivella”. Com a ciência do prefeito e lotados como funcionários públicos, o grupo era deslocado para as portas de hospitais no Rio para intimidar a imprensa. 


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