O Brasil voltou

Lula segue reaproximação do Brasil com o mundo em Portugal. ‘Saudades’, diz primeiro-ministro

Primeiro-ministro apoia a COP30 na Amazônia em 2025: “Portugal tinha muitas saudades do Brasil e eu tinha muitas saudades do presidente Lula. Temos muito a fazer em conjunto”

Reprodução/YouTube
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Lula e o líder português mostraram conexão de ideias e objetivos de cooperação. Como resultado, Costa saudou a mudança no tratamento do Brasil com Portugal

São Paulo – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta sexta-feira (18), em Lisboa, a retomada do protagonismo brasileiro diante do mundo. Ao lado do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, Lula cobrou mudanças da comunidade internacional por um maior engajamento na preservação ambiental. Além disso, ele conseguiu o apoio de Costa para a realização da COP30, em 2025, na Amazônia. É o segundo chefe de Estado europeu que declara apoio à iniciativa de Lula. Ontem, da mesma forma, o presidente da França, Emmanuel Macron, havia se manifestado.

“É preciso ter uma governança global com mais representatividade. Já disse que o Brasil se ofereceu para fazer a COP 30 no estado do Amazonas ou no Pará. Para as pessoas terem dimensão da floresta”, disse Lula. Costa completou: ” Temos causas globais. Se o Brasil organizar uma COP30 na Amazônia, contará com nosso apoio. É muito importante que isso aconteça”.

O primeiro encontro bilateral do presidente eleito após a eleição teve clima de amizade com líderes do governo português. Pela manhã, Lula encontrou-se com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, residência oficial em Lisboa. O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, participou do encontro.

lula em portugal
Os presidentes de Moçambique e de Portugal durante encontro com Lula na manhã de hoje (Foto: Ricardo Stuckert)

Mudanças na ONU

A presença de Lula na COP27 e em Portugal marcaram o retorno da política externa ativa e altiva brasileira. “Essa é uma demonstração de que o Brasil voltou ao mundo político”, disse Lula. “O Brasil voltou a discutir assuntos de interesse da humanidade. Fiquei muito emocionado no discurso da COP27. O povo gritava que o Brasil voltou. É muito marcante”, completou.

O primeiro-ministro português concordou e agradeceu a Lula por “ter escolhido Portugal como sua primeira viagem de âmbito bilateral, após a sua eleição e ainda antes de tomar posse”.

“Portugal tinha muitas saudades do Brasil e eu tinha muitas saudades do presidente Lula. Há que recuperar o tempo que perdemos, e temos muito a fazer em conjunto”

Lula também aproveitou para defender uma reivindicação antiga de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. Hoje, apenas cinco países, que são potências nucleares, possuem poder de veto sobre as mais importantes decisões das Nações Unidas. “A ONU de hoje não pode ser a ONU de 1948. O mundo mudou, a cultura mudou, o Conselho de Segurança da ONU precisa mudar. Precisa de gente de todos os continentes. Precisa acabar com a ideia de que um país pode ter direito de veto. Ninguém é superior a ninguém”, disse.

Entre os objetivos de uma reforma, está a necessidade de que resoluções internacionais tenham maior força e legitimidade. Lula lembrou, a princípio, que tratados internacionais, como o Acordo de Paris de 2015 e até mesmo o Protocolo de Kyoto, de 1997, não são respeitados.

“Todos têm que ser iguais e ter o mesmo carinho com o planeta. Não temos dois planetas. Temos uma Terra. E vamos cuidar com responsabilidade. Por isso digo que os países ricos devem assumir o compromisso de ajudar os países emergentes que têm florestas preservadas.”

Chico Buarque

Logo após a fala de Lula, Costa manifestou apoio. “Lula disse que a ONU não pode ser o que era em 1948. Temos defendido uma reforma no Conselho de Segurança. Temos causas globais (…) Estaremos juntos nas Nações Unidas”, disse.

Lula e o líder português mostraram conexão de ideias e objetivos de cooperação. Como resultado, Costa saudou a mudança no tratamento do Brasil com Portugal e falou sobre a presença de lideranças do país na posse de Lula em janeiro. “Estaremos todos portugueses representados na posse do Lula. Há muito tempo não tínhamos essa proximidade, esse carinho.” O petista, por sua vez, foi mais direto e cobrou a presença do primeiro-ministro. “Espero o presidente e o primeiro-ministro na minha posse. É uma data difícil, mas quero que vocês estejam lá.”

Em outro aceno de parceria, Lula lembrou que o cantor e compositor Chico Buarque foi premiado em 2019 com o Prêmio Camões, maior honraria literária de Portugal. Na época, o presidente Jair Bolsonaro não quis assinar a premiação, e Chico ainda não recebeu a homenagem. O petista disse que agora, em seu governo, ele pretende estar em Lisboa junto do cantor. “Fico orgulhoso em dizer que finalmente vou assinar o prêmio de Camões que o Chico Buarque ganhou”, disse. A entrega deve ocorrer em julho de 2023, quando Chico leva seu show para Portugal.

Ainda em 2019, Bolsonaro fez piada sobre o caso. “Eu tenho prazo? Então 31 de dezembro de 2026, eu assino”, disse. O cantor, por outro lado, retrucou: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões”.

Política Fiscal

O presidente eleito também voltou a falar sobre política fiscal. De acordo com Lula, o tema vem sendo utilizado por representantes do “mercado” com o intuito de especular. O sistema financeiro reagiu negativamente após Lula reforçar sua meta de acabar com a fome. “Fico às vezes chateado quando vejo sinais sobre a política fiscal”, disse. “Tenho um compromisso com o povo brasileiro. Vou voltar a fazer o povo sorrir, vou aumentar o salário mínimo e gerar emprego nesse país”, completou.

Para isso, Lula defendeu uma nova âncora fiscal, de forma que o Estado consiga cumprir com compromissos sociais, sem deixar de lado a responsabilidade. “Vamos ser responsáveis no sentido fiscal sem dar tudo que o sistema financeiro quer. Fui eleito para cuidar de 215 milhões de brasileiros e, sobretudo, das pessoas mais necessitadas.”

Em tom conciliador, o petista lembrou que não existe motivo para mau humor do mercado financeiro. “Tenho dito que ninguém tem autoridade para falar disso comigo porque durante todo meu período de governo fomos o único país do G20 que fez superávit primário em todos os anos. Aprendi com minha mãe que era analfabeta que só podíamos gastar o que ganhávamos. Mas se tivéssemos que fazer dívida para construir um ativo novo, que façamos com responsabilidade”, argumentou.

Assista à entrevista coletiva na íntegra


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