Conjuntura

Lula e sindicalistas da CUT: diagnósticos e saídas para a crise

Ex-presidente reuniu dirigentes da central e de alguns de seus principais sindicatos filiados: bancários, metalúrgicos, professores e químicos. Ele queria ouvir impressões sobre a crise e alternativas

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Ex-presidente discute impactos da situação econômica e escalada de ataques a Dilma, também alvo de críticas

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu na tarde de ontem (15) um grupo de sindicalistas, de algumas das principais entidades filiadas à CUT, incluindo o presidente e o secretário-geral da central, Vagner Freitas e Sérgio Nobre. Na pauta, a crise política, os desafios para recuperar a economia e a necessidade de mais diálogo do governo com os movimentos sociais. No encontro reservado, na sede do Instituto Lula, em São Paulo, também se falou da “hipertrofia” da Câmara e das sucessivas tentativas de desgastar a presidenta Dilma Rousseff, que recebeu algumas críticas por parte de alguns dos sindicalistas.

Estavam lá, além de Freitas e Nobre, os presidentes dos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, e dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Maria da Silva, e o diretor do Sindicato dos Químicos do ABC Paulo Lage. Também participou da reunião o presidente do instituto, Paulo Okamotto.

Lula se disse preocupado com “vozes irresponsáveis e oportunistas” ligadas à oposição, de acordo com relato de Rafael. Sem reconhecer o resultado eleitoral, esse setor estaria tentando minar ações do governo que buscam estimular a retomada do crescimento. “É em momentos de crise que a desigualdade social se acentua e a concentração de renda aumenta nas mãos dos especuladores e das elites”, comentou o ex-presidente.

Ele também citou a tentativa de mudar o sistema de partilha e retirar da Petrobras a obrigatoriedade de participar do pré-sal em no mínimo 30%. A proposta está contida no Projeto de Lei (PLS) 131, do senador José Serra (PSDB-SP). “Precisamos defender a soberania do país e não permitir a mudança no regime de partilha dos lucros, chamados royalties, da Petrobras, que estão destinados para a educação e para a saúde do povo brasileiro”, disse Lula, ainda conforme o relato de Rafael. “A corrupção deve ser combatida sempre, mas o seu combate não pode ser usado para se comentar o maior assalto a este tesouro das nossas futuras gerações.”

“Estamos assistindo a uma ataque do senador José Serra para desvalorizar uma conquista que a gente tem”, disse Bebel. Pela lei, 75% dos royalties devem ir para a área de educação. Segundo a presidenta da Apeoesp, também se discutiu ontem a necessidade de enfatizar as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado no ano passado e transformado em lei (número 13.005). “Precisa haver um debate nos estados e municípios para a implementação, afirma, citando as metas 16 (referente a formação), 17 (valorização), 18 (plano de carreira) e 20 (financiamento).

A crise econômica entrou na pauta, mas Bebel observou que é preciso fazer ponderações. “Ninguém nega a crise, mas se comparar com o período de Fernando Henrique Cardoso ainda tem diferenças substanciais”, afirmou. “É importante que o movimento social debata a crise e saídas.” Segundo ela, na conversa entraram sugestões de fortalecimento da economia nacional e do mercado interno.

Ainda que com críticas ao papel desempenhado pela oposição, os sindicalistas também esperam mudanças na postura de Dilma, tanto em termos de política econômica como de articulação, ouvindo mais os movimentos. Bebel lembrou, por exemplo, que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) nunca teve audiência com a presidenta, depois de ser várias vezes recebida por Lula. E chamou a atenção para a perda de popularidade do governo entre camadas mais pobres da população.

Segundo Paulo Lage, o ex-presidente queria ouvir impressões dos sindicalistas sobre o desempenho dos setores em que atuam. Escutou relatos sobre a preocupação com a parada na economia, gradualmente, em cada uma das cadeias produtivas. “A preocupação do companheiro Lula também é a nossa, como sindicalistas e representantes dos trabalhadores, já que estamos constatando um aumento nas demissões em vários setores econômicos”, comentou Rafael, dos metalúrgicos.

Para Lage, a questão política tem travado a atividade econômica. Essa é a questão central neste momento, mais do que um contato frequente entre governo e movimento sindical, avalia. “A nossa percepção é no intuito de que se tem irregularidade, se tem alguém fazendo coisa errada, que a Justiça puna. Mas essa investigação (referindo-se à operação Lava Jato) está indo para um viés político que tem paralisado o país. Ao paralisar o país, acaba atingindo os trabalhadores. A questão da retomada do crescimento passa pelas indústrias poderem trabalhar. Você não ouve, na grande mídia, alternativas para voltar a gerar crescimento, que passa por infraestrutura.” Para Lage, o entrave político causa insegurança e inibe possíveis investimentos por parte das empresas.

Lula reafirmou aos sindicalistas sua disposição de viajar pelo Brasil. E disse que irá ao congresso nacional da CUT, marcado para outubro, em São Paulo.

Com informações do jornal Tribuna Metalúrgica