SIGILO

Na Índia, Itamaraty fez negociação ‘secreta’ por vacinas

Após a operação secreta, importação custou apenas 10% do valor pago pela Fiocruz

DIVULGAÇÃO/MINISTERIO DA SAÚDE
DIVULGAÇÃO/MINISTERIO DA SAÚDE
Sob o comando do general Eduardo Pazuello, a Saúde determinou determinado à Fiocruz que fretasse um avião para buscar as vacinas na Índia, mas operação fracassou

São Paulo – O Itamaraty fez uma negociação sigilosa com o governo da Índia para buscar doses de vacinas, em janeiro deste ano. Anteriormente, a Fiocruz tentou trazer 2 milhões de imunizantes, mas os indianos cobraram US$ 550 mil pelo transporte. Após a operação secreta, a pasta fechou a importação por 10% do valor, ou seja, US$ 55 mil.

As informações foram publicadas pela jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira (26). A operação do Itamaraty para trazer as vacinas foi feita sem consentimento do Ministério da Saúde, que só soube quando a carga de vacinas já estava prestes a embarcar no avião da companhia aérea Emirates no aeroporto de Mumbai.

Sob o comando do general Eduardo Pazuello, a Saúde determinou à Fiocruz que fretasse um avião para buscar as vacinas na Índia, em 16 de janeiro, apesar do governo da Índia ter informado, dias antes, que não poderia se comprometer com o fornecimento das doses.

O presidente Jair Bolsonaro havia solicitado a agilização do processo, pois o governador João Doria (PSDB) iniciaria a vacinação em São Paulo já no dia 20. A Fiocruz então assinou em 13 de janeiro um contrato de fretamento de um avião para Mumbai com a DMS Agenciamento de Cargas e Logística, conforme instrução do Ministério da Saúde, para buscar as doses no dia 16. A ação obrigou um pagamento antecipado no valor de US$ 500 mil, sem a possibilidade de reembolso.

Negociação sigilosa

Depois da trapalhada de Pazuello e Bolsonaro, o Itamaraty e a Índia negociaram sigilosamente e, no dia 19 de janeiro, o ministro das Relações Exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar, comunicou que a carga de vacinas seria liberada no dia 21.

Jaishankar solicitou “reserva e discrição”, e as duas chancelarias acordaram a divulgação conjunta da informação somente às 6h do dia 22 de janeiro. O telegrama relata que o custo do transporte seria US$ 55 mil e pergunta de que forma o governo brasileiro iria fazer o pagamento.

Em nota à Folha, o Itamaraty afirmou que os custos da operação de importação também foram cobertos pela Fiocruz. “A atuação do Itamaraty no enfrentamento da atual crise sanitária é coordenada com os órgãos do governo federal responsáveis pelo tema.”

Repercussão

Ao iniciar os trabalhos da CPI da Covid nesta quinta-feira, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), anunciou a pedido de informações ao Ministério da Saúde sobre o gasto de cerca de US$ 500 mil  com fretamento de aviões para uma fracassada importação de vacinas da Índia.

O vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), qualificou a operação como “papagaiada, com todo respeito aos papagaios” e recomendou que a CPI solicite no relatório final o ressarcimento do valor aos cofres públicos.


Com informações da Folha de S.Paulo e Agência Senado