Impeachment aprofunda a crise, diz presidente da CUT
Vagner Freitas chamou Michel Temer de 'golpista de terceiro nível'. Movimentos farão protesto nacional no próximo dia 10, antes de votação no Senado
Publicado 01/05/2016 - 15h31
Para Vagner, Dilma está sendo julgada pelos ganhos que os trabalhadores tiveram e que os golpistas querem tirar
São Paulo – “O impeachment aprofunda a crise”, afirmou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, último a falar antes do discurso de Dilma Rousseff. “Os golpistas estão vendendo a ideia de que o país sai da crise (com o impedimento)”, acrescentou, anunciando um dia nacional de paralisação, no próximo dia 10, na véspera da votação no Senado.
O dirigente criticou diretamente o vice-presidente, Michel Temer. “Na nossa opinião, Temer é um golpista. golpista de terceiro nível”, afirmou. “Ele só tem aceitação de 1% da população”, disse Freitas, para quem há um “sentimento” de que o impeachment representa um golpe sendo imposto à sociedade. “Hoje, a opinião pública é contra o golpe”, afirmou, citando pesquisa do instituto Vox Populi, encomendado pela central, que mostra, conforme ressaltou, “que o impeachment não resolve os problemas do país”.
Para o presidente da CUT, Dilma está sendo julgada “pelos ganhos que os trabalhadores tiveram” em seu governo e no do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “São esses ganhos que os golpistas querem tirar.”
O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, disse a presidenta que a entidade não apoia o governo, mas que o objetivo dos movimentos é “enterrar” o golpe, que segundo ele é “sobretudo contra a democracia, a classe trabalhadora, as mulheres, os negros”. Ele defendeu a taxação de grandes fortunas e criticou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o banco Itaú, por apoiarem o golpe.
“Vamos chacoalhar este país. Eles querem a paz dos cemitérios. Não vai passar a terceirização, não vai passar a flexibilização de direitos”, afirmou Índio. “Presidenta Dilma, saiba que este povo vai lutar, vai resistir, e nós vamos construir a vitória da democracia, da classe trabalhadora e dos direitos sociais.”
O presidente da CTB, Adilson Araújo, também falou em resistência. “A mesma esperança que derrotou o medo pode também derrotar o terrorismo. Criaram um Estado de terror após as eleições”, afirmou, criticando a ofensiva conservadora contra direitos e a democracia. Além da pressão no Senado, para tentar barrar o impeachment (“A presidenta não cometeu crime de responsabilidade”), ele também admitiu a realização de um plebiscito sobre eleições diretas como alternativa contra a crise política.
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Unidade
O ato de 1º de Maio no Anhangabaú, em São Paulo, é convocado pelas centrais CUT, CTB e Intersindical, mas o secretário-geral da UGT, Francisco Canindé Pegado, esteve presente e pediu unidade entre as entidades para que não haja perda de direitos sociais e trabalhistas. “O caminho para o movimento sindical é manter-se unido. Qualquer que seja a situação, os direitos dos trabalhadores têm de ser garantidos.”
Entre dirigentes sindicais, há posições favoráveis e contrárias ao impeachment, o que levou a divergências internas entre algumas centrais. “Tem de separar partido de sindicato”, comentou Pegado. “Sindicato tem de negociar. Depois (do processo) todo mundo tem de estar junto de novo.”
Na semana passada, o presidente da UGT, Ricardo Patah, participou de reunião com o vice-presidente, Michel Temer, que recebeu uma pauta de reivindicações. Também estavam lá o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), favorável ao impeachment e articulador do encontro, e ainda os presidentes da CSB, Antonio Neto (que é do PMDB), e da Nova Central, José Calixto. A reunião foi mal vista por outras centrais.