Braço Fraco

Maior furto de metralhadoras desde 2009 expõe fragilidade do Exército

Criminosos furtaram 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército de São Paulo, localizado em Barueri, na Grande São Paulo, na semana passada

Arquivo/EBC
Arquivo/EBC
As metralhadoras desaparecidas estavam em uma viatura Agrale Marruá, veículo militar que estava estacionado na garagem do quartel do Comando Militar do Sudeste

São Paulo – Criminosos furtaram 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército de São Paulo, localizado em Barueri, na Grande São Paulo, na semana passada. O crime abalou autoridades e levantou preocupações sobre a segurança do armamento militar. A fragilidade do Exército na custódia destas armas é notável. Entre as metralhadoras, estão 13 calibre ponto 50, com capacidade de perfurar aeronaves. Elas estavam, aparentemente, destinadas a treinamento na Operação Agulhas Negras 2023. Entidades apontam que este é maior furto do tipo desde 2009.

De acordo com informações recentes, as metralhadoras desaparecidas estavam em uma viatura Agrale Marruá, veículo militar que estava estacionado na garagem do quartel do Comando Militar do Sudeste. A alegação de que essas armas estavam “inservíveis” e destinadas à manutenção levantou sérias preocupações entre especialistas em segurança.

Para o Instituto Sou da Paz, “o fato de elas não estarem aptas para pronto disparo não significa que esse desvio seja menos perigoso, até porque essas armas nas mãos das pessoas erradas podem fazer um grande estrago para a segurança pública, não só de São Paulo, mas do Brasil”.

Alto potencial

Ainda de acordo com a entidade, o destino provável dos armamentos é o crime organizado. “Essas armas deveriam ter numeração de série que permite rastreamento. Além disso, elas deveriam ter um brasão que representa a instituição do Exército no corpo. Quando localizarem, podem rastrear. Sabemos que, a depender de aonde as amas chegaram, as pessoas podem raspar esses sinais. Isso não é tão simples, mas existem casos em que criminosos podem suprimir o rastreio”, disse a gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Natalia Polacchi, à Rádio CBN.

“A .50 é extremamente potente, não é de uso cotidiano, nem das polícias. É uma arma com potencial antiaéreo, pode derrubar helicópteros, furar blindagens. Não são armas do crime cotidiano. São armas que encontramos em situações de conflitos armados. Ocorrências envolvendo ataques específicos contra blindagens. (…) Então, não interessa sequer ao crime comum. Interessa ao crime organizado de altíssimo impacto com consequências muito ruins para a segurança pública, de enfrentamento contra a polícia”, completou.

Exército frágil

O Instituto Sou da Paz conduziu um levantamento que revelou que este é o maior furto de armas no Exército brasileiro desde 2009. No caso anterior mais notório, em 2009, criminosos furtaram sete fuzis de um quartel em Caçapava, no Vale do Paraíba, em São Paulo. Contudo, posteriormente, as forças policiais recuperaram o armamento.

O sumiço das metralhadoras .50, que possuem alto poder destrutivo, coloca a população em alerta. No mercado clandestino brasileiro, o valor dessas armas pode chegar ao dobro do preço que é encontrado no Paraguai, aproximadamente R$ 150 mil. O risco representado por essas armas desaparecidas é um motivo de grande preocupação para autoridades e a sociedade em geral.

Após o furto, 480 militares foram “aquartelados”, ou seja, proibidos de sair do quartel em Barueri. Isso até que as investigações sejam concluídas. No entanto, familiares dos soldados enfrentam dificuldades para obter informações sobre seus entes queridos, já que todos os celulares foram apreendidos.

Buscas

Uma comitiva do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, localizado em Brasília, chegou a São Paulo para apurar o caso. A Polícia Civil, embora não tenha registrado um boletim de ocorrência sobre o furto, está apoiando as investigações.

O Comando Militar do Sudeste informou que uma inspeção realizada no Arsenal de Guerra em 10 de outubro identificou uma “discrepância no controle” das 21 metralhadoras, que alegadamente estavam em processo de manutenção. A instituição também confirmou a instauração de um inquérito para apurar as circunstâncias do ocorrido.

O Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, manifestou sua preocupação e afirmou que as polícias do estado estão empenhadas em evitar “consequências catastróficas” decorrentes do furto das armas antiaéreas. O caso continua sendo investigado em sigilo, e as autoridades, segundo Derrite, trabalham arduamente para solucioná-lo e recuperar o armamento desaparecido.

Comunicação do Exército

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse “lamentar o desaparecimento das 13 armas”. O secretário informou que não houve sequer comunicação oficial sobre o fato. Contudo, “as polícias Civil e Militar vão empreender massivos esforços no sentido de localizar o material roubado e evitar que haja consequências catastróficas à população”.

“Lamento o furto das 13 armas antiaéreas do Arsenal de Guerra do Exército. Nós da segurança de São Paulo não vamos medir esforços para auxiliar nas buscas do armamento e evitar as consequências catastróficas que isso pode gerar a favor do crime e contra segurança da população”, disse o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Com informações da Agência Brasil