Segundo Turno

Freixo diz que limitará velocidade nas vias urbanas; Crivella quer mais discussão

Primeiro debate na televisão entre os dois candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro no segundo turno teve também a segurança pública e a situação das favelas como temas dominantes

divulgação

Freixo e Crivella: debate morno teve até troca de elogios entre os candidatos à prefeitura do Rio

Rio de Janeiro – A limitação a 50 quilômetros por hora da velocidade dos veículos que circulam em vias urbanas, tema que suscitou intensas discussões entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, chegou à disputa eleitoral no Rio de Janeiro. No primeiro debate do segundo turno, realizado na noite de ontem (7) pela TV Bandeirantes, o candidato do Psol, Marcelo Freixo, afirmou que, se eleito, pretende repetir a experiência adotada na capital paulista: “O prefeito Fernando Haddad tomou essa medida, o que gerou uma polêmica muito grande. Eu acompanhei de perto e acho que o Haddad estava coberto de razão em fazer a redução pensando nessa questão da saúde do trânsito. Os efeitos na cidade de São Paulo foram muito contundentes e imediatos, temos ali um resultado concreto”, disse.

Em um debate morno, onde houve até troca de elogios entre Freixo e seu adversário Marcelo Crivella (PRB), o candidato do Psol falou que é importante reduzir o número de carros nas ruas e estimular o transporte coletivo de qualidade. Também criticou os pardais espalhados pela cidade pelo atual prefeito Eduardo Paes: “É preciso reduzir a velocidade, é preciso ter mais esse controle. Infelizmente, no Rio de Janeiro existe uma indústria de multas que hoje arrecada em torno de R$ 150 milhões. É um dinheiro não carimbado, ele entra na Prefeitura e você não sabe para onde vai. A gente quer fazer essa redução de velocidade para diminuir o número de acidentes e mortes nas vias da cidade, e isso não vai significar um trânsito ruim, até porque o trânsito do Rio já é um dos piores do mundo”, disse.

Crivella também se disse favorável à medida tomada pela gestão de Haddad em São Paulo, mas não se comprometeu a adotar a redução de velocidade se eleito: “Eu observei essa política que foi adotada em São Paulo, sobretudo nas marginais, e houve várias controvérsias. O candidato João Doria (PSDB), que ganhou as eleições, se propôs a fazer um amplo debate e discutir essa política. Eu a princípio sou plenamente favorável porque a redução faz com que o trânsito escoe de maneira mais organizada e as pessoas emitam menos CO2 na atmosfera. Mas, essas medidas importantes precisam ser discutidas”, disse.

O recente aumento dos índices de criminalidade, com a cidade revivendo furtos e assaltos nas ruas que pareciam enterrados no passado, foi outro problema debatido pelos candidatos. Crivella propôs “cuidar das crianças de zero a seis anos que estão abaixo da linha da pobreza” como forma de diminuir a violência: “O Rio tem 500 mil crianças de zero a seis anos, e 40 mil delas estão vivendo em famílias que ganham menos de R$ 170 per capita. Se a gente cuidar dessas crianças, estará cuidando da causa principal da violência e impedindo que elas caiam lá na frente na armadilha das drogas e do assalto”, disse.

Outra medida proposta pelo candidato do PRB é atuar com base em um mapa da violência: “As áreas que mais contribuem para a população carcerária no Rio são a Zona Oeste e a Zona Norte. A Polícia Militar e a Guarda Municipal podem atuar juntas nessas manchas de crime, atuando junto a um Centro de Segurança para que a gente possa resguardar a vida das pessoas nas ruas do Rio contra furtos e roubos de carro também”, disse Crivella.

Trabalho social

Freixo ressaltou a necessidade de um trabalho social: “Há um grande número de homicídios hoje no Brasil, principalmente de jovens, negros, pobres, moradores da periferia e das favelas. Temos que fazer um diagnóstico dessa violência. Queremos medidas de território, uma ação social concreta. Nos locais onde há alto índice de homicídios, nós vamos entrar pesado com ações sociais. Eu quero disputar a vida dessa juventude. Não há lugar no mundo que tenha tantos jovens mortos por arma de fogo como tem o Brasil e o Rio de Janeiro”, disse.

O candidato do Psol também afirmou a necessidade de se desenvolver um trabalho de inteligência e prometeu que, se eleito, a Prefeitura vai atuar em conjunto com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Governo do Estado no combate à criminalidade: “É importante que a gente possa sistematizar as informações sobre segurança. Hoje os dados da Polícia Federal não são cruzados com os dados da Polícia Civil, que também não cruza com a Polícia Militar, e a Prefeitura finge que não tem nada a ver com isso. Temos que ter transparência e eficácia para transformar esses dados em ação preventiva”.

Depois de afirmar que “a violência não é uma só na cidade, é diferente a violência da Gávea da violência da Pavuna ou de Realengo”, Freixo lembrou o combate às milícias que marcou o início de sua trajetória pública quando ainda atuava como procurador: “Temos hoje na Zona Oeste a situação das milícias. Eu presidi a CPI das Milícias, sei o que fazer para enfrentá-las”, prometeu. Em 2012, pouco antes de disputar a Prefeitura pela primeira vez, o candidato do PSOL teve que deixar o país após receber ameaças de morte por parte de milicianos.

Favelas

Um tema que havia sido pouco tocado no primeiro turno, mas ganhou destaque no debate entre Marcelo Crivella e Marcelo Freixo foi a situação econômica das favelas cariocas, onde vive um terço da população da cidade. O candidato do PRB defendeu o programa Zona Franca Social, que daria benefícios fiscais para estimular o empreendedorismo nas comunidades carentes: “Isso pode dar aos moradores das comunidades carentes a possibilidade de trabalhar perto das suas casas. Eu quero tirar os impostos municipais – e vou tentar convencer os governos estadual e federal a tirarem os impostos deles também – para a gente poder desenvolver bons negócios nas comunidades, sobretudo, para a pequena e micro empresa”, disse.

Crivella também falou na criação de um polo produtivo nas favelas: “Eu quero usar o poder estratégico de compra do município para encomendar nas comunidades carentes uniformes de gari, uniformes da Guarda Municipal, placas de trânsito, a roupa de cama e os móveis das escolas. É gerando bons empregos que a gente vai levar riqueza para as comunidades. Elas vão melhorar o seu comércio local, as suas casas, vão ter mais recursos para educar suas crianças. Além disso, as pessoas trabalhando perto de casa poderão olhar seus filhos para que não caiam na armadilha que existe nas comunidades hoje, que é o submundo das drogas”.

Freixo defendeu um plano de desenvolvimento humano e políticas públicas especificamente voltadas para as favelas: “No Complexo do Alemão, a mortalidade infantil dobrou nos anos do Eduardo Paes. Também aumentou muito na Cidade de Deus e na Rocinha. Nós queremos um modelo de desenvolvimento que leve em conta a capacidade territorial. A favela não pode ser um espaço do medo. Ali tem que ser um espaço de voz, de democracia e de cultura permanente, onde quem produz cultura possa ter os editais não para um evento ou outro, mas ter fundamentalmente a capacidade de produzir cultura, produzir identidade e ser um espaço de desenvolvimento. A ação sobre os territórios tem que criar um novo modelo de desenvolvimento, gerando emprego, renda e dignidade para quem mora nas favelas do Rio”, disse o candidato do Psol.

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