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Para Frei Betto, ministério de Dilma começa como ‘coral desafinado’

Assessor de movimentos sociais considera que um dos maiores desafios da nova gestão da presidenta Dilma Rousseff é ajustar vozes em benefício da maioria do povo, e não das elites

Wilson Dias/ABr

‘Foto oficial mostra o rosto de todos os 39 ministros, mas não mostra o coração, muito menos as convicções’

São Paulo – O escritor Frei Betto, assessor de movimentos sociais, em seu comentário à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (12) afirma que a foto da presidenta Dilma Rousseff com seus 39 ministros mostra a cara de todos, mas não suas convicções. “Em menos de uma semana de governo, a gente sentiu que as vozes ministeriais soaram desafinadas.”

O comentarista pontua os primeiros desencontros entre as declarações dos ministros. Nelson Barbosa, do Planejamento, declarou que o salário mínimo seria submetido a novas regras e, de imediato, enquadrado pela presidenta, foi obrigado a se desdizer.

Kátia Abreu, visando a agradar o agronegócio, afirmou que no Brasil não existe latifúndio e que a reforma agrária não é necessária. No dia seguinte, ao tomar posse, o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, declarou: “Não basta derrubar a cerca do latifúndio. É preciso derrubar as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social”.

George Hilton, ao tomar posse no Ministério do Esporte, causou constrangimento ao afirmar que não entendia profundamente do tema, mas entendia de pessoas. “Pena que George Hilton não tenha sido indicado para o setor de psicologia do Ministério da Saúde. Ou para o cerimonial do Itamaraty, que tanto precisa de gente que entenda de gente”, ironiza Frei Betto.

“As únicas vozes afinadas até agora no coro montado pela presidenta Dilma são as dos ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Joaquim Levy, da Fazenda”, afirma o escritor, que se preocupa se os cortes anunciados pela dupla afinada impactarão na vida dos mais pobres.

Sobre uma eventual reforma tributária, Frei Betto clama por um modelo mais progressivo, e focado na produção e na renda, cobrando mais de quem ganha mais, e não de todos, indiscriminadamente, através do modelo atual de impostos sobre o consumo.

“A nossa esperança é que a presidenta Dilma, que declarou que jamais prejudicaria a maioria do povo brasileiro e de que não haveria corte nos programas sociais, tenha consciência desse coral desafinado e procure ajustá-lo em benefício da maioria do nosso povo e não em beneficio da nossa elite”, conclui Frei Betto.

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