golpismo

Entidades de caminhoneiros condenam bloqueios e defendem resultado das urnas

Polícia Rodoviária diz que aguarda liminar para desbloquear rodovia; AGU contesta. A responsabilidade é de Bolsonaro, diz jurista

Reprodução/PRF
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Caminhoneiros bolsonaristas queimam pneus travando rodovia em Santa Catarina

São Paulo – Entidades ligadas aos caminhoneiros condenaram os bloqueios em rodovias que setores bolsonaristas realizam desde a madrugada desta segunda-feira (31) em protesto contra a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), caminhoneiros bolsonaristas estão bloqueando estradas, total ou parcialmente, em pelo menos 13 estados. A rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, está totalmente fechada na altura de Barra Mansa (RJ). O movimento golpista é estimulado por políticos bolsonaristas. Além disso, o silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ainda não reconheceu a derrota nas urnas, também contribui para a confusão nas rodovias.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL-CUT), é preciso respeitar o resultado soberano das eleições. “Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos”, afirmou o o diretor da CNTTL-CUT Carlos Alberto Litti Dahme. “Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas. Esse projeto foi derrotado ontem”, enfatizou. Em vez do golpismo, Litti afirmou que os caminhoneiros autônomos estão em “luta permanente” pela volta da aposentadoria aos 25 anos de trabalho, a consolidação piso mínimo do frete e a redução do preço do combustível, dentre outras reivindicações.

O deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, afirmou que a organização não apoia nenhum tipo de manifestação contra o resultado das eleições. Ele ainda classificou como “criminosos” os caminhoneiros que bloqueiam as rodovias.

Diálogo

Do mesmo modo, a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) defendeu o respeito à democracia, bem como pregou a necessidade de diálogo com o governo eleito, em prol das demandas da categoria.

“A gente precisa, referente à categoria, ter um alinhamento com o próximo governo. Precisamos lutar, sim, pelo nosso seguimento do transporte. Muitas coisas a gente precisa retirar do papel. Esse movimento de parar o país vai prejudicar muito a economia. Precisamos ter reconhecimento da democracia desse país, da vitória do presidente”, afirmou o presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, um dos líderes da greve dos caminhoneiros em 2018.

Jogo de empurra e culpa de Bolsonaro

A reação antidemocrática dos caminhoneiros também é marcada pela cumplicidade da PRF, que ainda ontem promoveu bloqueios para restringir o direito de voto da população, principalmente no Nordeste. Em vez de agir para desbloquear as rodovias, a corporação informou que acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) e que agora aguarda medida judicial contra a ocupação de estradas federais. Em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo, a AGU afirma, no entanto, que neste tipo de ocorrência “a Polícia pode atuar sem demandar autorização”.

“É importante destacar que existem pareceres jurídicos da instituição que autorizam atuação de ofício das Polícias, sem demandar autorização judicial”, afirma a AGU.

De acordo com o professor de Direito Conrado Hubner, da Universidade de São Paulo (USP), a responsabilidade pelo caos nas estradas é do atual presidente.

Por outro lado, o cientista político Alberto Carlos Almeida destaca que são os empresários de setor do transporte, e não caminhoneiros autônomos, que estimulam o golpismo.