Em busca de mais ‘índios’, tucano atrai ‘caciques’ do movimento sindical

Para dirigente, sem isso nenhum partido consegue mais eleger um presidente da República. Decisões de cúpula ainda incomodam

Brasília – Um grupo de 26 sindicalistas se reunirá na manhã desta segunda-feira (30) com o presidente do PSDB de São Paulo, deputado Pedro Tobias, em um esforço dos tucanos paulistas para aproximar o partido dos movimentos sociais, com o diagnóstico de que é preciso popularizá-lo e descentralizar decisões. O ocorrido na convenção nacional do último sábado (28), em que a decisão foi concentrada em alguns poucos dirigentes, aumentou a insatisfação no chamado baixo clero. Por isso, o movimento sindical seria um fator importante para aumentar o poder de fogo do partido, com maior participação de seus filiados.

“A ideia é transformar esse núcleo sindical (paulista) em nacional”, conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de São Paulo, Antonio de Sousa Ramalho, um dos vice-presidentes da Força Sindical. Vindo do PDT, partido do presidente da Força, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, ele está no PSDB há dois anos e meio, e tem sido um dos principais interlocutores do partido entre os sindicalistas. Segundo Tobias, Ramalho foi indicado para ocupar uma secretaria sindical tucana, assunto que já estaria bem encaminhado com a direção nacional.

De acordo com Ramalho, um dos delegados na convenção do último sábado, muitos dirigentes estariam “dispostos a voltar” ao PSDB, após um período de “certo afastamento” durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O primeiro vice da Força, Melquíades de Araújo (Federação dos Trabalhadores na Alimentação de São Paulo), também é filiado ao partido, do qual foi um dos fundadores. Vice da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Enílson Simões de Moura, o Alemão, apoiou José Serra na campanha presidencial de 2010.

A avaliação, principalmente após os anos Lula, é de que dificilmente alguém chega à Presidência da República sem esse tipo de apoio. “Ninguém se elege mais sem o movimento sindical, que está muito politizado”, diz Ramalho. Tanto ele como Tobias consideraram um sinal bastante positivo a indicação de Davi Zaia (Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul), do PPS, para a Secretaria do Trabalho no governo Geraldo Alckmin.

Ainda para Ramalho, a falta de contato do ex-governador José Serra com o movimento sindical pode ter sido causada por falhas de comunicação. “No governo Serra, talvez tenha faltado porta-voz. Eu, por exemplo, fui recebido 16 vezes”, enumera. Mas ele lembra que o poder ainda está muito concentrado no partido. “Tem muito cacique. Está faltando índio ainda.”

Esse problema foi mais uma vez constatado na convenção nacional – realizada no sábado (28), na capital federal – e pode ser um limitador na tentativa do partido de se tornar mais popular. Um dos objetivos anunciados do PSDB era justamente ampliar a democracia interna, “assegurando espaço para a efetiva participação dos filiados no seu processo decisório”.

Não foi o que se viu. Durante mais de três horas, das 9h até as 12h30, os delegados ficaram à espera dos principais líderes do partido, que estavam reunidos em um apartamento em Brasília, para tentar um acordo entre o senador Aécio Neves (MG) e ex-governador José Serra (SP).

Eles chegaram apenas para anunciar o que havia sido decidido dentro do grupo, no esforço para evitar uma briga interna mais desgastante. Feito isso, a convenção terminou em pouco mais de uma hora, com o anúncio dos nomes da nova executiva.

“Foi uma vergonha”, criticou um representante do baixo clero tucano. Como muitos, ele ficou insatisfeito com essa modalidade de democracia – e prometia expressar essa crítica nas instâncias do partido. Nesse ritmo, avaliou, o partido tenderia a se parecer com o PMDB, sem poder central e muitos líderes regionais.