Encontro de blogueiros

‘É minha absoluta obrigação resistir’, diz Dilma em BH

Presidenta foi recebida por milhares de apoiadores em Belo Horizonte e participou de encontro de blogueiros e ativistas digitais na capital mineira. E disse acreditar na força das ruas e em reviravolta no Senado

Reprodução/Facebokk

Quando Minas se levanta, o Brasil se levanta. Começamos a jornada para levar Dilma de volta à presidência, disse Patrus Ananias

São Paulo – A presidenta afastada Dilma Rousseff participou ontem (20) da abertura do 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais em Belo Horizonte. Ao chegar ao evento, foi recebida por milhares de manifestantes contrários ao processo de impeachment. Após abraçar diversos deles, fez uso da palavra e não conteve as lágrimas. “Iremos resistir. Eu agradeço a vocês a imensa energia dessa recepção”, disse.

O 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais vai até o próximo domingo (22), tendo como principal objetivo discutir a integração do ativismo digital com os movimentos sociais empenhados na resistência em defesa da democracia. Na abertura, Dilma criticou o fim do Ministério da Cultura (MinC) e a possibilidade de redução do Sistema Único de Saúde (SUS). Acusou o governo interino de planejar cortes no Bolsa Família. Reiterou que o processo de impeachment não se justifica e o definiu como golpe

A plateia é de maioria feminina, “como tem ocorrido em tantos atos de resistência”, observa o jornalista Rodrigo Vianna, do blogEscrevinhador.Antes da presidenta, descreve Vianna, Renata Mielli, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, destaca os interesses internacionais envolvidos no golpe, que chega para “sabotar a integração latino-americana e os Brics”. E afirma: “Talvez esse golpe seja ainda mais terrível que o de 64, porque se desenvolve sob a máscara da legalidade. Voltamos ao governo dos homens ricos, de terno preto”.

O Escrevinhador destaca ainda a presença do ex-prefeito de BH e ministro afastado do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias: “Quando Minas se levanta, o Brasil se levanta. Começamos hoje a jornada para levar Dilma de volta à presidência”, disse. Na vez da presidenta, ainda segundo o blogueiro, ela fala com emoção e firmeza que o governo provisório é produto, golpe, ilegítimo e montou ministério de velhos, ricos e brancos, sem negros, e sem mulheres. “A platéia se encanta com essa Dilma mais política e menos tecnocrática”, diz Vianna.

Dilma comparou a política externa do seu governo com a do presidente interino. “Uma vez Chico Buarque sintetizou que a política externa deles é a que fala fino com os países ricos e falava grosso com a Bolívia. Na época, a oposição queria até que invadíssemos a Bolívia. Mas a nossa política externa, que criou laços na América Latina e na África, foi a que tornou o Brasil respeitado internacionalmente”, disse.

A presidenta disse que não vai ficar presa no Palácio da Alvorada e pretende aceitar convites para participar de atos, além de seguir tentando impedir o impeachment no Senado e em todas as instâncias possíveis do Poder Judiciário. “No meu governo e no governo do presidente Lula sempre asseguramos que as pessoas pudessem se expressar mesmo quando eram contra nós, porque damos imenso valor à democracia. Eu temo que um governo ilegítimo, ao tentar implantar certas medidas, só tenha o recurso da repressão para fazê-las viáveis”, disse.

O encontro seria feito com patrocínio da Caixa Econômica Federal. Ontem (20), porém, o presidente interino Michel Temer suspendeu o repasse dos recursos. “Se eles acharam que esse corte iria nos impedir de debater a mídia alternativa, eles não nos conhecem”, disse na abertura do evento Renata Mielli.

O jornalista Washington Novaes, do site Bem Blogado, relata as reações da presidenta afastada à conduta adotada pelo governo interino em vários aspectos. “Dilma disse que o governo golpista já bateu recorde de desmentidos, mas que os desmentidos não convencem, pois eles querem mesmo o corte dos projetos sociais, do salário mínimo, arrocho na Previdência e a redução extrema de recursos do SUS para o privilégio dos planos de saúde privados, Bolsa Família”, diz Novaes. A presidenta alertou para o apoio dos meios de comunicação à tática do interino de falar em “rombo financeiro” para justificar cortes nas áreas sociais. Manifestou preocupação com o futuro do pré-sal e, destaca o blogueiro, classificou a demissão do presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) como mais um gesto de “desrespeito contumaz” à democracia.

Manifestação

Um ato contra o afastamento de Dilma Rousseff estava agendado para ontem (20), mas a data foi alterada após a presidenta afastada confirmar que estaria na capital mineira nesta sexta-feira. Os manifestantes se reuniram na Praça Afonso Arinos, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, que está ocupada desde o dia 12 de maio por estudantes contrários ao impeachment. Eles se direcionaram para a entrada do Hotel Othon Palace, onde ocorre o encontro dos blogueiros.

Após a recepção à presidenta afastada, a manifestação seguiu para a sede da Fundação Nacional de Artes (Funarte). O local está ocupado por artistas contrários ao impeachment desde o último domingo.

A Funarte era vinculada ao recém-extinto MinC e tem como objetivo o desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo. Sua sede nacional fica no Rio de Janeiro e há representações em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Recife. Na semana passada, o então presidente do órgão, Francisco Bosco, apresentou sua carta de renúncia e justificou sua decisão dizendo não reconhecer o novo governo.

Dilma reafirma que tem fé numa reviravolta no Senado: “É minha absoluta obrigação resistir. Vou lutar contra isso até o fim”. E ironizou a intimação do STF, para que explique por que tem usado a palavra golpe: “Gostei muito, vou fazer um grande esclarecimento; além disso, ninguém pode impedir ninguém de falar em golpe”.

Com informações da Agência Brasil, Escrevinhador e Bem Blogado


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