Disputa pelo Governo do RJ esquenta e tem reflexos nacionais

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que está à frente na pesquisa do Datafolha (Foto: Wilson Dias/ABr) Rio de Janeiro – O ano mal começou e já é […]

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que está à frente na pesquisa do Datafolha (Foto: Wilson Dias/ABr)

Rio de Janeiro – O ano mal começou e já é grande a movimentação política em torno das eleições para o Governo do Rio de Janeiro. Favorito nas pesquisas de opinião até aqui realizadas, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) vê alguns de seus mais fortes eventuais adversários acenarem com o afastamento da disputa pelo Governo e optarem por uma vaga no Legislativo, o que, a princípio, favorece suas chances de reeleição. Por outro lado, a influência das eleições presidenciais sobre o cenário estadual é grande e ainda pode provocar reviravoltas nos principais partidos envolvidos na disputa, como PT, PSDB, DEM e PV.

Cabral apóia a candidatura à Presidência da República da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ainda luta para que seu palanque seja o único a receber a petista no Rio de Janeiro, apesar da existência de outros pré-candidatos ao governo estadual que também pertencem a partidos da base aliada ao governo federal. Nesse caso se enquadram o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), e o ex-governador Anthony Garotinho (PR).

Em relação a Lindberg, a interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode facilitar as coisas. Após uma conversa com Lula e outra com Cabral, o petista chegou a afirmar à imprensa que decidira concorrer ao Senado e que apoiaria a reeleição do governador. O “plano b” da disputa pelo Senado já era cogitado pelo prefeito de Nova Iguaçu desde o início de sua ofensiva política rumo à candidatura ao Governo, mas mesmo esta alternativa está ameaçada após a derrota de seu grupo nas eleições do PT do Rio, fato que deixa ainda instáveis as peças do tabuleiro político fluminense.

O presidente eleito do PT no estado, deputado federal Luiz Sérgio, defende a candidatura ao Senado da ex-governadora Benedita da Silva, o que desagrada a Lindberg. Declarações do presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, a favor de Benedita aumentaram o desconforto petista e fizeram com que Lindberg agendasse para a próxima segunda-feira (11) uma conversa com Lula e Berzoini: “Já está na hora da turma da Benedita abrir mão de alguma coisa. O PT de São Paulo não pode intervir novamente no PT do Rio, como já fez no passado. Não vamos aceitar levar outra rasteira nesse processo”, diz Lindberg.

Embora Benedita seja sua secretária de Assistência Social, Cabral atua nos bastidores a favor de Lindberg, pois isso manteria Dilma (e Lula) exclusivamente em seu palanque. Em relação a Garotinho, no entanto, a coisa parece mais difícil, porque nada indica que o ex-governador, segundo colocado nas pesquisas feitas até aqui, desistirá de concorrer novamente ao Governo. Neste caso, Cabral aposta na antipatia que Lula nutre por Garotinho desde os tempos em que este chamou o PT de “partido da boquinha” e, mais tarde, passou a atacar fortemente o governo na época das denúncias sobre o mensalão.

Após perder o controle do PMDB fluminense para Cabral e deixar o partido, Garotinho encontrou abrigo no PR, partido que compõe a base aliada do governo Lula. Em suas declarações públicas recentes, o ex-governador vem afirmando o apoio à Dilma e diz que deseja ter a ministra em seu palanque. Cabral, no entanto, espera que a falta de “química” entre Garotinho e Lula acabe tornando secundário para Dilma o palanque do PR. A favor de Garotinho está a capacidade de crescimento de sua candidatura, explicitada pela enorme audiência de seus dois programas de rádio diários (cerca de 250 mil ouvintes em todo o estado) e pelo grande apoio de que goza entre a comunidade evangélica.

Serra sem palanque

 

Os partidos de oposição ao governo Lula, por sua vez, parecem não pisar em chão muito firme no que se refere às eleições do Rio de Janeiro. Até então tida como fator de união da oposição em torno de um único nome contra Cabral e de esperança de vitória nas urnas, a candidatura ao Governo do deputado federal Fernando Gabeira (PV) virou uma possibilidade remota desde que foi lançada a candidatura da ex-ministra Marina Silva à Presidência da República. O palanque de Gabeira, que seria o principal no Rio para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ruiu antes mesmo de ser montado, fato que tem deixado os tucanos do Rio em estado de alerta.

O PV deve garantir um palanque para Marina com a candidatura do vereador e cacique do partido Alfredo Sirkis ao governo estadual. Gabeira, por sua vez, já cogita desistir até mesmo da candidatura ao Senado e tentar novo mandato na Câmara: “Se tiver somente 30 segundos de televisão e rádio por dia, não vale a pena concorrer ao Senado”, disse o deputado. O aumento do tempo de exposição no horário eleitoral provocado por uma eventual aliança será o principal argumento do PSDB para tentar convencer Gabeira e o PV a dividir o palanque de Marina no Rio com Serra.

Sem nomes fortes no próprio partido e com a indefinição dos verdes, o PSDB volta os olhos para o DEM, seu aliado histórico, que tem como principal figura política no estado o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia. O problema é que Cesar também parece decidido a concorrer ao Senado, onde tem chances concretas de vitória, já que este ano serão eleitos dois senadores.

“Não conseguiu”

O presidente nacional do DEM, deputado federal Rodrigo Maia, filho de Cesar, é aliado de Serra na busca por um palanque forte para o tucano no Rio e se comprometeu “a recuperar a candidatura do Gabeira ou tentar convencer o Cesar Maia”. A tarefa de Rodrigo, no entanto, não deverá ser fácil nem mesmo no partido que preside, a julgar pelas palavras do próprio pai, em entrevista ao jornal O Globo: “Se ele disse que vai tentar, é porque não conseguiu”, afirmou Cesar, após garantir: “Sou candidato ao Senado”.

Em suas fileiras, o PSDB tem como nome mais forte o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito. Outrora considerado “o rei do voto na Baixada Fluminense”, Zito ensaiou um discurso de pré-candidato ao Governo, mas voltou atrás porque a população local teria mostrado insatisfação com o fato de ele abandonar a Prefeitura pela segunda vez antes de terminar o mandato. Além disso, as terríveis enchentes provocadas em Caxias pelas chuvas de fim de ano teriam abalado o prestígio de Zito e deixado suas asas pesadas demais para vôos políticos mais altos.

A última pesquisa de opinião sobre a sucessão no Rio, divulgada pelo Instituto Datafolha em 21 de dezembro, traz o governador Sérgio Cabral em primeiro lugar com 36% das intenções de voto. Em segundo lugar aparece Anthony Garotinho (23%), seguido por Cesar Maia (12%) e Lindberg Farias (8%). Na simulação feita com Fernando Gabeira no lugar de Cesar, a liderança continua com Cabral (38%), seguido por Garotinho (23%), Gabeira (14%) e Lindberg (6%).