FALTA DE CONTEÚDO

Discurso de Moro, durante filiação ao Podemos, é criticado por ‘hipocrisia’

Falando como presidenciável, ex-juiz fez promessas genéricas e caiu em contradições

REPRODUÇÃO
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As falas de Moro, durante a filiação ao Podemos, foram criticadas pela falta de conteúdo e promessas eleitorais rasas, como a erradicação da pobreza e o combate à corrupção

São Paulo – O ex-juiz federal Sergio Moro anunciou, nesta quarta-feira (10), sua filiação ao Podemos. Durante o evento, ele fez um discurso como presidenciável e foi alvo de críticas, nas redes sociais, por contradições em relação a seu próprio histórico.

Moro defendeu a Lava Jato, mesmo após a decisão do Supremo Tribunal Federa (STF) de que houve parcialidade do magistrado no julgamento contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-juiz também tentou se descolar da figura de Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Justiça.

O evento da filiação foi realizado no centro de convenções Ulysses Guimarães, e contou a presença de governistas e representantes da direita tradicional. Ao lado do ex-juiz, estava o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), o pré-candidato à Presidência Luiz Henrique Mandetta (DEM), o general Santos Cruz, e membros do Movimento Brasil Livre (MBL), como os deputados federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e estadual Arthur do Val (Patriota-SP).

Hipocrisia de Moro

Anos atrás, Moro afirmou que não participaria diretamente da política. Entretanto, em 2018, foi ministro do governo Bolsonaro e, agora, se lança como pré-candidato à Presidência. Embora seja oficialmente um político, o ex-juiz usou seu discurso para se colocar como “antipolítico”.

“Estou vendo aqui o discurso de filiação do Moro. Aquele desfile de clichês sobre a ‘corrupção’, mais defesa da Lava Jato misturado com os clichês da política de sempre, com um forte tom de antipolítica”, criticou o jornalista Leandro Demori, do The Intercept. “É o Bolsonaro de 2018 versão 2.0: 1. Aponta o grande problema (o sistema como um todo); 2. Não se coloca como político (mesmo sendo político, agora filiado) Mais uma vez teremos um ‘outsider’, como Bolsonaro se vendeu em 2018”, acrescentou ele.

Outra fala de Sergio Moro questionada nas redes foi a “defesa da liberdade de imprensa”, momento em que criticou Jair Bolsonaro por atacar jornalistas. “Moro disse ‘chega de intimidar jornalistas’, ele mesmo que chamou todos os jornalistas do Intercept, da Folha, da Veja, da Pública e dos El País que fizeram a Vaza Jato como ‘aliados de hackers criminosos’. Hipócrita”, lembrou Demori, em seu Twitter.

Bolsonarista anti-Bolsonaro

O antropólogo Orlando Calheiros afirmou que o discurso de Sergio Moro foi ruim e que foi possível “encontrar alguém que discursa pior que o Bolsonaro”.

“Bicho, como já teve gente que já achou esse homem inteligente? Pelamor”, questionou. “Moro tá realmente se colocando como um candidato anti-bolsonarismo, Um projeto alternativo para a extrema direita”, afirmou, em outro tuíte.

A jornalista do Uol Juliana Del Piva relembrou de outra contradição do ex-juiz, ao se colocar contra a “rachadinha”, durante o discurso. “Moro ficou no governo até abril do ano passado, pouco antes de Queiroz ser preso e quando já era de conhecimento público boa parte das informações sobre as provas contra o senador Flávio e Queiroz”, afirmou ela.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP) pontuou que a filiação de Sergio Moro teria como objetivo limpar a própria imagem, após as anulações de processos da Lava Jato. “Moro e seu colega Deltan Dallagnol tentam escapar da lata de lixo da história agarrando-se a uma possível carreira política em um partido com notórios corruptos. São novidades pretéritas, vendidas como novas, à moda do capitão de milícias.”