contra a corrupção

Dilma: ‘Operação Lava Jato pode mudar país para sempre’

Presidenta ressalta que investigações de denúncias de corrupção na Petrobras deve, pela primeira vez, levar à punição de empresas corruptoras, mas alerta para risco de uso político do caso

Roberto Stuckert Fº / PR

Dilma, na Cúpula G20. Presidente se posicionou pela nova fase da Lava Jato e que é preciso condenar pessoas, não a empresa

São Paulo  – Em sua primeira entrevista coletiva desde que chegou à Austrália, onde participa da reunião de cúpula do G-20 (entre líderes dos 19 países mais poderosos do mundo e da União Europeia), a presidenta Dilma Rousseff disse que os desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção na Petrobras, pode ‘mudar o país para sempre’. Ela fez a afirmação ao reafirmar que o caso é o primeiro escândalo a ser realmente investigado pelo próprio governo federal, o que classificou como “um diferencial imenso”.

“Você não vai acreditar que nós tivemos o primeiro escândalo da nossa história. Nós tivemos o primeiro escândalo da nossa história (sendo) investigado. Há aí uma diferença substantiva e eu acho que isso pode de fato mudar o país para sempre. Em que sentido? No sentido de que vai se acabar com a impunidade. De que vamos mostrar que ela (a investigação) não é algo ‘engavetável'”, afirmou.

Dilma também alertou para o risco de setores da sociedade tentarem fazer uso político das informações sobre as investigações. “A gente tem de ter cuidado, porque nem todas as investigações a gente pode dar como concluídas. Não se pode sair por aí já condenando A, B, C ou D.”

Dilma reafirmou a convicção de que a Operação Lava Jato representa uma virada na luta contra a impunidade no país, sobretudo de corruptores”Ela é uma investigação que vai, necessariamente, colocar à luz do sol todos os processos de corrupção ou, inclusive, de uso internacional de algumas atividades. Ela é uma das muitas (formações de cartel para corromper funcionários públicos) que ocorreram no Brasil e que nunca foram investigadas. Essa, talvez, seja a grande diferença dela. Ela está sendo investigada.”
Empresa

Questionada sobre que ações pretende tomar em relação à Petrobras, Dilma Rousseff frisou que as investigações dizem a respeito a funcionários da estatal envolvidos com as denúncias, e alertou que é preciso separar a empresa dos atos cometidos por parte de seus empregados.

A maioria absoluta dos funcionários da Petrobras não é corrupta. Agora, tem pessoas que praticaram atos de corrupção dentro da Petrobras. Então, não se pode pegar a Petrobras e condenar a empresa. O que nós temos de condenar são pessoas. Pessoas dos dois lados: os corruptos e os corruptores. Eu acredito que a questão da Petrobras é simbólica para o Brasil. Acho que é a primeira investigação efetiva sobre corrupção no Brasil que envolve segmentos privados e públicos.”

Dilma completou, voltando a lembrar que a Lava Jato é uma operação comandada por seu governo inédita na história republicana do país. “É a primeira. E que vai a fundo. Agora, nós podemos listar uma quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram levados a efeito. E talvez sejam esses escândalos que não foram investigados que são responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras.”

Punição devida

Jornalistas presentes à coletiva, ao insistir na tese da politização das denúncias na Petrobras, ouviram novamente de Dilma a explicação de que as investigações têm objetivo claro e definido e que não devem ser tratadas de forma generalizada.

“O fato de que você tenha dentro da Petrobras uma quantidade de pessoas que cometeram atos de corrupção não significa que todos os atos da Petrobras sejam praticados por corruptos. Essa é uma conclusão incorreta. O que significa investigar? Atribuir responsabilidades por quem praticou atos ilícitos. Quem praticou atos ilícitos vai ter de ser punido. Agora, não se pode responsabilizar todos, inclusive, os que não praticaram atos ilícitos. Isso não seria correto e, pelo contrário, levaria a algo que beneficiaria os corruptos, na medida que você não tipifica culpa. A culpa tem de ser tipificada e identificada para ela poder ser, de fato, considerada culpa pela lei brasileira ou pela lei de qualquer país. Não há culpa genérica, há culpa concreta”‘