autopreservação

Para metalúrgico, deputados votaram para fugir de investigação

Presidente do sindicato do ABC, Rafael Marques, afirmou que mobilizações irão se intensificar. “As camadas alijadas vão continuar no centro do debate, queira a elite ou não”

Adonis Guerra/SMABC

“Votação do impeachment é retrato da miséria política que se abate sobre o Brasil”

São Paulo – Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, a aprovação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, ontem (17), é um ato de “hipocrisia” e autopreservação de parte dos parlamentares, que temem que as investigações de corrupção cheguem até eles. “É uma ratificação do pior Congresso já eleito, liderado por um ladrão de escala internacional (Eduardo Cunha, do PMDB)”, declarou à TVT. “É o retrato da miséria política que se abate sobre o Brasil.”

O sindicalista lembrou do fato de o prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Muniz (PSB), ter sido preso preventivamente pela Polícia Federal na manhã de hoje, sob suspeita de prejudicar o funcionamento de hospitais públicos da cidade para favorecer um privado, que é gerido por sua família. Ele é casado com a deputada federal Raquel Muniz (PSD), que votou a favor do impeachment e destacou e homenageou o marido antes de votar: “Meu voto é (…) para dizer que o Brasil tem jeito, e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão”.

“Essa máscara da hipocrisia está no campo das investigações”, afirma Rafael. “Muitos dos deputados estão comprometidos com a corrupção e estão incomodados com a apuração e as investigações dos casos. Eles ficaram insatisfeito com novas leis de combate à corrupção erguidas nos governos Lula e Dilma. Eles querem que parem as investigações porque está chegando muito perto deles.”

Para o sindicalista, o resultado da votação na Câmara não é uma “derrota” para os trabalhadores nem para os movimentos sociais, mas um “alerta máximo”. “Fomos melhores no debate, tivemos muitos meses de boicote da grande imprensa, mas mesmo assim conseguimos mostrar que está acontecendo um golpe na nossa democracia, nas nossas instituições e na nossa Constituição.”

“Somos fortes e continuaremos tomando as ruas”, acrescentou. “Essa aliança dos jovens, dos acadêmicos, dos trabalhadores, dos coletivos de cultura, dos sem teto e dos sem-terra não vai cessar. Vamos continuar por um Brasil grande, onde não há espaço para um processo retrocesso democrático, para um governo que só pense nos ricos. Vamos fazer com que o Brasil continue colocando as camadas alijadas no centro do debate, queira a elite ou não, porque temos capacidade de mobilização. Vai haver muita luta.”