Direitos Humanos

Deputado diz que vai investigar cela em que ficou empresária

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara recebeu denúncia de que Cristina Mautoni sofreu maus-tratos e quer apurar se houve abuso para que o marido fosse pressionado a fazer delação

Brasília – O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), afirmou há pouco que não é porque a Polícia Federal transferiu a esposa do lobista Mauro Marcondes Machado, Cristina Mautoni, para uma outra cela, que ele vai desistir de visitar e inspecionar o local onde a detenta se encontrava anteriormente. Pimenta fez um pedido ao juiz que coordena as ações referentes à Operação Zelotes, Vallisney de Souza Oliveira, para visitar Cristina ontem (25), porque a comissão recebeu denúncias de que ela estaria recebendo tratamento incompatível com sua condição física. Ela se recupera de cirurgia e encontra-se em cadeira de rodas.

O pedido formal que o deputado encaminhou ao magistrado representando a Comissão de Direitos Humanos foi, por sua vez, enviado ao Ministério Público Federal para avaliação. A Polícia Federal divulgou, na tarde de hoje (26), que a empresária ficou numa sala onde são instalados todos os detentos recém-chegados e onde, de fato, não existe sequer um banheiro, mas logo depois teria sido transferida para outro local que é o mesmo onde ficou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS).

O órgão destacou, ainda, por meio de um memorando, que fez o pedido de detenção da ré porque não encontrou qualquer problema em suas condições de saúde que a obrigasse a cumprir prisão domiciliar. A informação é contestada pela defesa da empresária.

Paulo Pimenta disse que aguarda a resposta do Ministério Público. O deputado reclamou do fato de ter sido mencionado por veículos de imprensa que ele teria se recusado a contar quem foi o responsável pela denúncia. Destacou que a preservação das pessoas que fazem esse tipo de denúncia é “uma das regras básicas da política de Direitos Humanos”. “Seria uma agressão eu revelar o nome do denunciante e um atentado ao Estado democrático de direito”, acentuou.

Na última semana, o advogado de Marcondes Machado, Roberto Podval, denunciou que seu cliente foi chantageado pelo delegado federal Marlon Oliveira, coordenador das ações da Operação Zelotes, com a prisão da esposa. De acordo com Podval, o delegado teria procurado o lobista dizendo que se ele não aceitasse fazer delação premiada, Cristina Mautoni deixaria o regime de prisão domiciliar em que se encontrava e seria conduzida a um presídio.

Na denúncia recebida ontem pela Comissão de Direitos Humanos, as informações foram de que Cristina Mautoni chamou várias vezes os agentes pedindo que fosse conduzida a um banheiro. Ela terminou se urinando na cadeira de rodas. Cristina ainda não pode se locomover normalmente para tomar banho sozinha ou levantar-se e ir ao banheiro, em razão do período pós-cirurgia.

A empresária foi presa com o argumento de que representava “ameaça à ordem pública”, pelo fato de ser casada com o lobista. Sua defesa pediu um habeas-corpus ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região argumentando não haver motivo para a sua prisão. Além disso, o casal tem uma filha de 14 anos que não tem com quem ficar.

Grandes conglomerados

A Operação Zelotes foi deflagrada em março do ano passado pela Polícia Federal para investigar as fraudes observadas no Carf. O escândalo, responsável pela mudança de multas e autuações de empresas por questões fiscais, pode ter contribuído com a sonegação de  recursos da ordem de R$ 20 bilhões.

Fazem parte da relação de investigados conglomerados empresariais como o grupo RBS (maior afiliada da Rede Globo), Gerdau, Votorantim, Ford, Mitsubishi, BRF (antiga Brasil Foods), Camargo Corrêa, os bancos Santander, Bradesco, Safra, BankBoston, Pactual, Brascan e Opportunity.