Planilhas

Defesa de Lula apresenta documentos que apontam que Odebrecht pagou delatores

Planilhas levadas ao TRF4 mostram que empreiteira fechou ‘pacote de benefícios’ com executivos que fecharam delação premiada contra ex-presidente

Guilherme Santos/Sul21 - Giuliano Gomes/EC
Guilherme Santos/Sul21 - Giuliano Gomes/EC
Documentos obtidos pela defesa de Lula mostram planos de benefícios a executivos da Odebrecht que toparam fazer delação premiada contra Lula

São Paulo – A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou nesta quarta-feira (20) ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) embargos referentes ao chamado caso do sítio de Atibaia (SP) que afirmam que documentos e planilhas apresentados no último dia 17 pela empreiteira Odebecht à Justiça de São Paulo provam “definitivamente” que delações usadas para condenar Lula foram pagas. A peça, de 63 páginas, rebate acórdão proferido no último dia 22 de abril sobre o caso.

Conforme a defesa do ex-presidente, os documentos provam que a empreiteira pagou pelas “delações premiadas e pelo conteúdo que elas veicularam para tentar incriminar o ex-presidente Lula”. Da planilha apresentada constam apenas beneficiários que fecharam acordos de colaboração com auxílio da empresa.

Entre eles, está uma planilha segundo a qual ex-executivos e colaboradores da Odebrecht receberiam por até nove anos valores da empresa sem qualquer tipo de prestação de serviço após a celebração dos acordos de delação premiada.

Esses documentos foram apresentados pela construtora em processos contra seu ex-presidente Marcelo Odebrecht. A ação visa a invalidar contrato celebrado em que a empresa se compromete a pagar a Marcelo a quantia de R$ 52 milhões por conta de serviços prestados enquanto ele exerceu a presidência do grupo, entre 2013 e 2015.

Correspondência

“O réu sabia que, para celebração de acordo de leniência que possibilitasse a continuidade das atividades da empresa, a Odebrecht precisava que seus ex-executivos, envolvidos nos fatos investigados pela operação “lava jato”, cooperassem com as autoridades criminais. Com isso em mente, o senhor Marcelo Odebrecht passou a ameaçar a empresa (…) afirmando que, caso não lhe fossem conferidas determinadas benesses patrimoniais, ele não celebraria acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, inviabilizando, por consequência, o acordo de leniência da Odebrecht. Colocada contra a parede e necessitando preservar sua própria existência, a Odebrecht pagou ao senhor Marcelo Odebrecht mais de R$ 143 milhões, que foram utilizados pelo réu para sua blindagem patrimonial”, diz trecho inicial da ação da empresa contra seu ex-presidente.

A peça também apresenta transcrições da correspondência de Marcelo Odebrecht em seu tempo de cárcere e uma planilha com valores pagos aos executivos que celebraram acordos de delação. Um deles, Alexandrino Alencar, receberia R$ 100 mil (mensais) por aproximadamente nove anos. A defesa de Lula também apresenta um documento que lista os “compromissos assumidos com colaboradores” em que a empresa se compromete a fazer o pagamento de multas ao Ministério Público Federal (MPF), prover apoio jurídico e dar proteção patrimonial aos delatores.

A defesa de Lula pede que o TRF4 autorize a realização de diligências para averiguar como foi organizado e comandado o processo de delação premiada da Odebrecht, quem apresentou a proposta de remuneração para viabilizar os acordos e que se esclareçam quais as condições impostas aos executivos para firmar os acordos.

O documento é assinado pelos advogados Cristiano Zanin, Valeska Martins, Maria de Lourdes Lopes, Eliakin T.Y.P. dos Santos e Lyzie de Souza Andrade Perfi.