CPMI para investigar esquema montado por Cachoeira será instalada na próxima semana

MPF recorreu à Justiça contra a transferência de Carlinhos Cachoeira para o presídio da Papuda, no Distrito Federal, alegando que a penitenciária não apresenta condições de impedir o poder de influência do preso

Brasília – A comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) destinada a investigar as relações do empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com parlamentares e agentes públicos e privados deverá ser instalada terça (24) ou quarta-feira (25) próximas, quando termina o prazo para os partidos indicarem os membros do colegiado.

Amanhã (19) de manhã, será lido o requerimento de criação da CPMI, em sessão do Congresso Nacional convocada pela presidenta em exercício, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES). Hoje, a deputada reuniu-se com líderes partidários da Câmara e do Senado para acertar a convocação do Congresso para leitura do requerimento e o prazo (até terça-feira) para indicação dos integrantes da CPMI.

Rose de Freitas disse não ver dificuldade para conseguir quórum para a sessão do Congresso. Pelo menos 41 senadores e 257 deputados deverão marcar presença no Parlamento para a abertura da reunião. “Acredito que teremos uma presença grande de parlamentares na sessão, até porque essa é uma CPMI que conta com o apoio de praticamente todos os partidos. Espero que todos compareçam.”

Segundo Rose, no Senado, foram computadas e conferidas 67 assinaturas pela abertura da comissão. Na Câmara, até as 16h de hoje, o número chegou a 362 assinaturas. Rose informou que alguns deputados ainda estão assinando o requerimento, o que elevará o número dos apoiadores.

Após a leitura do requerimento de criação da CPMI, os deputados e senadores terão 24 horas para retirar sua assinatura do documento. “Será uma CPI de trabalho, que tem fatos concretos para serem analisados e investigados. Essa é uma CPI que nasceu com fatos concretos”, disse Rose de Freitas.

Poder de influência

O Ministério Público Federal (MPF) recorreu à Justiça contra a transferência de Carlinhos Cachoeira para o presídio da Papuda, no Distrito Federal. Na ação, o MPF alega que a penitenciária não apresenta condições de impedir o poder de influência do preso.

O empresário chegou na manhã de hoje (18) à Papuda, vindo do presídio de Segurança Máxima de Mossoró (RN), onde estava preso desde que foi deflagrada da Operação Monte Carlo, pela Polícia Federal em fevereiro. Foram presas outras pessoas ligadas ao grupo criminoso.

A transferência foi autorizada pelo desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que alegou que Cachoeira não apresenta risco à sociedade e que não cometeu crime hediondo.

No recurso, o MPF defende que a influência de Cachoeira somente pode ser neutralizada se ele ficar detido em um regime diferenciado de prisão. Diferente da penitenciária de Mossoró, a Papuda não é um presídio de segurança máxima.

“O pedido também defendeu que só é possível manter o grupo desarticulado se o seu líder for mantido preso sob sistema diferenciado, que neutralize ou, ao menos, minimize seu poder de penetração. Para o MPF, o Complexo da Papuda não possui condições adequadas para neutralizar esse poder de Cachoeira, inclusive por se encontrar próximo (e dentro) a seu centro de comando”, diz o MPF.

Caso o pedido do MPF seja aceito pela 3º Turma do TRF-1, Cachoeira terá de retornar ao presídio de Mossoró.

O empresário chegou a Brasília em voo comercial, proveniente de Fortaleza (CE) e sob escolta de policiais federais. Ele divide a cela com 22 pessoas em uma área reservada a presos da Polícia Federal. Carlinhos Cachoeira ficará à disposição da Justiça por tempo indeterminado.

Ele é apontado como chefe da quadrilha que explorava máquinas caça-níqueis e pagava propina para agentes públicos de segurança. Ele é acusado de comandar o jogo do bicho na região Centro-Oeste, em especial no estado de Goiás. 

O senador goiano Demóstenes Torres (sem partido) e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), são acusados de participar dos esquemas ilegais do empresário. O parlamentar tem sido o mais atingido pelas denúncias. Vazamentos das conversas telefônicas mostram o senador recebendo orientação do empresário sobre projetos em tramitação no Congresso Nacional.