Bolsonarismo acuado

Corregedor libera relatório e pede ao TSE para marcar julgamento que pode tornar Bolsonaro inelegível

Ação questiona o episódio em que o ex-governante convidou dezenas de embaixadores ao Alvorada para atacar sem provas o sistema eleitoral e ministros do TSE

Clauber Cleber Caetano/PR
Clauber Cleber Caetano/PR
A dezenas de diplomatas estrangeiros, Bolsonaro atacou o sistema eleitoral e o ministro Edson Fachin, entre outros

São Paulo – O ministro Benedito Gonçalves, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, liberou nesta quinta-feira (1°) seu relatório em ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que pode torná-lo inelegível. Gonçalves pede que se marque uma data para o julgamento. A ação, de autoria do PDT, questiona o episódio em que o ex-governante convidou dezenas de embaixadores de países estrangeiros ao Palácio da Alvorada, em julho do ano passado.

Na ocasião, ele atacou sem provas o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas e ministros do TSE e STF. A fala do então presidente foi considerada por muitos como uma espécie de “preparação” para um golpe de Estado.

Os posteriores acontecimentos que desencadearam o 8 de janeiro, assim como a minuta golpista achada na casa do ex-ministro Anderson Torres, que foi solto este mês após quase quatro meses preso, parece indicar que o plano de golpe realmente existia.

O evento com os diplomatas, em 18 de julho de 2022, se tornou mais grave por ter sido transmitido pela TV Brasil, uma emissora pública, a menos de três meses da eleição. O ministro apresentou um relatório detalhando a ação. A Procuradoria-Geral Eleitoral opinou a favor da inelegibilidade de Bolsonaro sob acusação de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

Mentiras e ameaças

O discurso de Bolsonaro na ocasião foi permeado de mentiras e ameaças veladas ou diretas. Ao se referir ao ministro Edson Fachin, por exemplo, afirmou: “Será que se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”. Fachin havia criticado possíveis ingerências militares nas eleições dizendo que “quem trata de eleições são as forças desarmadas”.

O andamento dado à ação pelo corregedor já era previsto desde a posse dos  dois novos ministros para o TSE, André Ramos Tavares e Floriano de Azevedo Marques, que sucederam Carlos Horbach e Sérgio Banhos.

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Zambelli: medo de cassação

Fontes de Brasília previam tal movimento, que parte do presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Especula-se que a deputada Carla Zambelli (PL-SP), alvo de investigação no inquérito do STF que apura atos antidemocráticos e de várias ações no TSE, também pode ser cassada, a exemplo do ex-procurador Deltan Dallagnol.

Zambelli postou, na última segunda-feira (29), outro vídeo queixando-se da ameaça que pesa sobre ela. “Eu queria dizer para vocês que, lógico, a gente se preocupa, sim. Eu vou ser a próxima cassada. É dado como certo, né? Eu confiei muito em Deus. O que tiver que ser, Deus permitirá ou não permitirá”, disse, depois de afirmar que está “fazendo um tratamento de neuroestimulação” que “pega duas regiões do cérebro, que é onde aconteceu o bornout”.

Justiça condena Rogério Marinho

Por sua vez, o senador Rogério Marinho (PL-RN) foi condenado à perda do mandato pela Justiça do Rio Grande do Norte, na quarta-feira (31), em decisão do juiz Bruno Montenegro Ribeiro Dantas, da 6ª Vara da Fazenda Pública de Natal. O senador classificou a decisão como “descabida”. A sentença não tem efeitos imediatos e o senador poderá recorrer.

O juiz condenou o bolsonarista por improbidade administrativa, por suposto esquema de nomeação de funcionários fantasmas na Câmara Municipal de Natal, onde ele foi vereador. Marinho teria participado de “esquema ilícito consistente na inclusão na folha de pagamentos da Câmara Municipal de Natal, de pessoas que não exerciam, efetivamente, qualquer atividade pública, concorrendo, assim, para que terceiros ou eles próprios enriquecessem ilicitamente às custas do erário”, diz a sentença.