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Conversas vazadas comprovam que Lava Jato usou Tony Garcia como ‘agente infiltrado’

Procurador confirma que Tony Garcia foi utilizado como “colaborador” para obter provas contra advogado desafeto de Sergio Moro

Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado
Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado
"Colaborador marcava reunião e a conversa fluía. (...) Não anularam", disse Paulo, sobre atuação de Garcia

São Paulo – O site Brasil 247 divulgou novas conversas entre procuradores da Lava Jato que comprovam as acusações feitas pelo empresário e ex-deputado Tony Garcia contra o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União-PR). Em entrevistas recentes, Garcia vem afirmando que atuou ilegalmente como um “agente infiltrado” a mando de Moro e dos procuradores de Curitiba.

Tony Garcia foi um dos primeiros a assinar acordo de delação premiada com a Justiça do Paraná. Ele afirma, no entanto, que para permanecer em liberdade, era obrigado a buscar informações que pudessem comprometer desafetos e adversários políticos de Moro.

As revelações foram baseadas em troca de mensagens entre os procuradores através do aplicativo Telegram, obtidas pela Operação Spoofing. A Polícia Federal (PF) abriu esta investigação, em 2019, a pedido do próprio Moro, quando era ministro da Justiça do governo Bolsonaro. O objetivo, contudo, era investigar um ataque hacker que invadiu o celular do ministro e outros políticos.

Assim, no diálogo, o procurador Athayde Ribeiro Costa questiona sobre a produção de uma “prova”, no âmbito da Lava Jato, em que um colaborador ligaria para um investigado, e questiona se haveria problema com tal iniciativa.

Posteriormente, Januário Paludo – espécie de mentor dos procuradores de Curitiba – responde dizendo que utilizaram o mesmo expediente em outra operação que prendeu um advogado, desafeto de Moro. “Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência”, diz Paludo. Não há, no entanto, previsão legal para a atuação de agentes infiltrados.

Além disso, a reportagem também divulgou um documento em que o advogado de Tony Garcia indica os números das linhas celulares que ele utilizaria para grampear ilegalmente os desafetos de Moro, na condição de “agente infiltrado”.

Confira o diálogo:

19:48:04 Athayde Discussao: colaborador vai ligar para o investigado e perguntar sobre documentos q seriam produzidos para lastrear contrato ficticio. A gravacao da ligacao seria autorizada judicialmente e operada na sede da PF. Seria flagrante preparado/esperado? Teriamos problemas com essa prova?

19:48:27 Paulo Na PF

19:54:04 Ok

20:17:40 Januario Paludo Athayde. 2005 fizemos várias escutas ambientais a partir do escritório do colaborador (operação tnt). Colaborador marcava reunião e a conversa fluía sem provocação direta. Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência. O colaborador era o tony Garcia.

21:08:20 Athayde Excelente. A medida ja foi deferida… Heheh

Supremo intervém

Ontem, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão dos processos envolvendo Tony Garcia na 13ª Vara Federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Além disso, solicitou cópias integrais de todas as ações em que Garcia esteja envolvido como parte, testemunha ou investigado. Do mesmo modo, o ministro ainda proibiu o tribunal paranaense de fazer qualquer manifestação nos autos do processo, inclusive aquelas de caráter urgente.

“Eles me amarraram nesse acordo durante dez anos. Eles ficaram me usando para obter informações, usaram informações para perseguir o PT, eles usaram da minha amizade com o Eduardo Cunha para eu colher informações de operadores do PT, operadores da Petrobras, operadores do Zé Dirceu, de tudo, eles queriam pegar tudo”, disse o ex-deputado, em entrevista à CNN Brasil.


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