Nunca mais

Com marcha entre Rio e Minas, caminhada em São Paulo e debates, 60 anos do golpe dominam a pauta política

Neste domingo, manifestantes em São Paulo se concentram diante do antigo DOI-Codi e caminham até o Ibirapuera. Na segunda, marcha irá do Rio a Juiz de Fora

Evandro Teixeira
Evandro Teixeira

São Paulo – A partir deste domingo (31), diversos eventos marcam a “descomemoração” dos 60 anos do golpe que levou a 21 anos de ditadura civil-militar. Em São Paulo, por exemplo, ocorre a quarta edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, que tem como lema Para que não se esqueça, para que não continue acontecendo. Os eventos programados para os próximos dias têm a preocupação de apontar as consequências ainda presentes do golpe de 1964, especificamente a violência do Estado.

Assim, a concentração acontecerá a partir das 16h no antigo DOI-Codi, na rua Tutoia, Vila Mariana, zona sul, onde hoje funciona uma delegacia de polícia. Do local onde foram mortos Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, – e movimentos querem transformar em centro de memória –, os manifestantes sairão às 18h em direção ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

Pelo menos 10 organizações da sociedade e movimentos sociais devem participar. Pelo governo, é esperada a presença de Nilmário Miranda, assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC). O evento é organizado pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Instituto Vladimir Herzog, pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. O evento integra o calendário oficial da cidade desde o ano passado (Lei 17.886, aprovada a partir de projeto do ex-vereador e atual deputado Antonio Donato, do PT).

Homenagem a Jango

Na manhã de segunda-feira, sai do centro do Rio de Janeiro a chamada Marcha da Democracia. O destino é Juiz de Fora, em Minas Gerais. Os participantes farão o caminho contrário ao do general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, que comandou tropas em direção ao Rio para depor o governo João Goulart. O ex-presidente, que morreu no exílio em 1976, será homenageado com título Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

A marcha fará uma “parada solidária” em Petrópolis, região serrana do Rio, para entrega de leite em pó aos desabrigados pelas chuvas. Depois, no município de Comendador Levy Gasparian, eles participam de almoço oferecido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de confraternização na antiga ponte que divide Rio e Minas. E seguem, por fim, pelo trecho da antiga estrada União Indústria.

Jornalistas e metalúrgicos

Entre outros eventos previstos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo promove ato na próxima terça-feira (2), às 19h, para relembrar os 60 anos do golpe e pedir justiça para suas vítimas. Particularmente, a Vladimir Herzog, que dá nome ao auditório da entidade. Ele foi morto no DOI-Codi em outubro de 1975. O ato pedirá justiça a ele “e demais profissionais de imprensa vítimas de crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante a ditadura”.

Na quinta-feira (4), das 16h às 20h, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sediará ato político em defesa da democracia, com participação da Associação Heinrich Plagge. Será lançado o livro Ditadura, a cumplicidade da Volkswagen e a resistência dos trabalhadores. Também será exibido, em pré-estreia, o documentário Metalúrgicos para a Democracia.

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