Memória

Mulheres contra a ditadura: Assembleia fará homenagem a Ana Dias, Clarice Herzog e Eunice Paiva

Símbolos de resistência, elas sempre mantiveram viva a memória de seus companheiros Santo, Vladimir e Rubens, mortos pelo regime entre 1971 e 1979

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Eunice, Clarice e Ana: histórias de resistência

São Paulo – Apenas oito anos separam as mortes do deputado Rubens Paiva (1971), do jornalista Vladimir Herzog (1975) e do metalúrgico Santo Dias (1979), todos assassinados por agentes da ditadura. Eram jovens – tinham 41, 38 e 37 anos, respectivamente. No próximo dia 5, suas companheiras, três mulheres que se tornaram símbolo da resistência serão homenageadas na Assembleia Legislativa de São Paulo: Ana Dias, Clarice Herzog e Eunice Paiva (in memoriam).

Assim, elas receberão o Colar de Honra ao Mérito Legislativo, por iniciativa da deputada Beth Sahão (PT) – um “contraponto” aos 60 anos do golpe, que se completarão na próxima segunda-feira (1º). Com o apoio do Núcleo Memória, Grupo Tortura Nunca mais, Instituto Vladimir Herzog e Comissão Justiça e Paz, da Arquidiocese de São Paulo.

Consolidação da democracia

“É um conjunto de ações que estamos desenvolvendo para consolidarmos nosso regime democrático e, ao mesmo tempo, lembrarmos de pessoas tão importantes que foram mortas pela ditadura porque estavam exatamente lutando pela democracia”, afirma a deputada. No último 13 de dezembro – data do AI-5, baixado pela ditadura em 1968 –, ela apresentou o Projeto de Lei (PL) 1.720, que institui o Dia Estadual da Democracia. A proposta está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.

Pelo texto, seria fixado o dia 25 de outubro, data da morte de Herzog no DOI-Codi paulistano. O então diretor de Jornalismo da TV Cultura apresentou-se para depor, na manhã do sábado, 25, e foi morto sob tortura. Clarice tinha 34 anos e dois filhos pequenos, Ivo e André. Em 2018, o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por não investigar e punir os responsáveis pelo crime.

Preso em casa

Já o ex-deputado Rubens Paiva, do PTB, foi preso em sua casa, no Rio de Janeiro, e levado para o Quartel General da 3ª Zona Aérea e, de lá, para o DOI-Codi. Também morreu após contínuas torturas. Seu corpo jamais foi devolvido à família. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou cinco militares por mais esse crime. Eunice Paiva nunca deixou de buscar informações sobre o paradeiro do marido. O casal teve cinco filhos: Marcelo, Vera, Maria Eliana, Maria Beatriz e Ana Lucia. Ela morreu em dezembro de 2018, aos 86 anos.

Já Santo Dias, integrante da Oposição Metalúrgica em São Paulo, morreu durante piquete na fábrica da Sylvania, em Santo Amaro, em 30 de outubro de 1979. O tiro foi desferido por um policial militar. Familiares e amigos voltam ao local todos os anos. Ativista, Ana sempre participou da organização da luta das mulheres e do movimento contra a carestia. Eles tiveram dois filhos, Luciana e Santo, mais conhecido como Santinho.