Reparação de militante contra a ditadura é doada à Escola Florestan Fernandes
Morto em 2019, o economista José Carlos Vidal ficou preso na década de 70 na Casa de Detenção de São Paulo, por lutar em defesa da democracia. Familiares, amigos e a coordenação do MST realizam ato em homenagem nesta quarta, em Brasília
Publicado 19/03/2024 - 13h55
São Paulo – Familiares, amigos e a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizam um ato nesta quarta-feira (20) em homenagem ao economista e um fundadores do PT José Carlos Vidal. Militante revolucionário, Vidal esteve na linha de frente contra a ditadura civil-militar. Na década de 1970, chegou a ser preso na Casa de Detenção de São Paulo, onde ficou por um longo período e foi vítima constante de tortura. As arbitrariedades do Estado contra ele, contudo, foram reconhecidas. E, agora, o valor recebido como indenização será doado à Escola Nacional Florestan Fernandes, construída por sem-terra em Guararema, região metropolitana de São Paulo.
O repasse atende a um último pedido de Vidal, que sempre destacou seu desejo de que o valor da reparação fosse encaminhado ao centro de educação e formação do MST. Ele acabou morrendo em 25 de março de 2019, deixando como grande marca de sua biografia a defesa pela democracia.
O economista é um dos autores da obra O livro chamado João: A Repressão Militar-policial no Brasil (Expressão Popular, 2016). O documento foi desenvolvido e executado clandestinamente nos anos 70, na prisão paulistana, por ele e outros militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Ao lançar o livro há 8 anos, em meio ao golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), José Carlos Vidal destacou a importância da obra diante das ameaças antidemocráticas que já se apresentavam.
Compromisso com a vida
“Esse livro contribui para entender a nossa história e, com ela, tirar lições. Essas lições serão fundamentais para eliminar algo que está surgindo agora que é o fascismo. O fascismo é um inimigo das massas populares e de todas as propostas de avanço político no Brasil”, advertiu na ocasião.
Além de enfrentar a ditadura, a trajetória também foi marcada por passagens em grandes empresas brasileiras. O economista foi presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB) de 1996 a 1998. Ao longo do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele também foi assessor do então presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra. E sempre foi lembrado por “lutar por um Brasil farto, justo e mais igual”, como registrou o PT do Distrito Federal diante de sua morte, em 2019.
“Homem íntegro, competente na execução de serviços por onde passou, em especial na CEB e na Petrobras. Candangos e brasileiros agradecem. (…) Com certeza milhões de Vidais empunharão bandeiras democráticas e libertárias”, afirmou o partido.
A homenagem nesta quarta também reflete seu compromisso com a vida, como destaca a organização. O ato ocorre a partir das 18h, no auditório do estádio Mané Garrincha, em Brasília.
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