Negacionista

‘Cara de pau’: parlamentares falam em constrangimento após Queiroga omitir mortes pela covid na OMS

Em discurso transformado em propaganda política de Bolsonaro nesta segunda (23), ministro da Saúde defendeu política de combate à pandemia do governo e escondeu que o Brasil tem o segundo maior número de mortes do mundo pela covid, que se aproxima das 670 mil vítimas

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, minimizaram a doença, que tem escalada de casos. Subiu de 978 em julho para 9.541 em novembro

São Paulo – Parlamentares da oposição se disseram constrangidos com o discurso do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na Assembleia Mundial da Saúde, na manhã desta segunda-feira (23). Na principal reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ocorre na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, o chefe da pasta transformou seu discurso em propaganda eleitoral do governo de Jair Bolsonaro (PL), ignorou todos os principais temas da agenda internacional e omitiu o número de mortos pela covid-19 no Brasil. 

De acordo com informações do correspondente internacional Jamil Chade, do portal UOL, Queiroga ainda celebrou os resultados da política de enfrentamento à pandemia adotada pelo governo federal. “Desde o início da pandemia de covid-19, o governo do presidente Jair Bolsonaro atuou para preservar vidas, conciliando o equilíbrio econômico e a justiça social”, declarou. 

O Brasil tem, no entanto, o segundo maior número de mortes do mundo desde o começo da crise sanitária. E se aproxima de 670 mil vítimas da doença do novo coronavírus. Em termos econômico, o país tem a quarta maior taxa de juros e a terceira maior de desemprego, segundo a agência de classificação de risco Austin Rating. Além de, em abril, ter fechado com a inflação mais alta dos últimos 26 anos, prejudicando principalmente as famílias mais pobres que acompanham de perto a volta do Brasil ao Mapa da Fome da ONU. 

Mortes e crise

Com, ao todo, 665.627 mortes em decorrência da covid-19 no país, Queiroga havia desembarcado com a função de tentar desfazer a imagem de representar um governo negacionista. Segundo o colunista, o ministro optou, contudo, em anunciar, sem citar os elevados números absolutos, o fato de o Brasil ter “reduzido em 90% os óbitos pela covid no último ano”. O chefe da Saúde também omitiu o fato de o Brasil ter esnobado o consórcio de vacinas, a Covax, por meses. Assim como atrasou as negociações com farmacêuticas para comprar imunizantes. 

Sem citar a campanha antivacina, movida pelo próprio Bolsonaro que diz não ter sido imunizado, Queiroga destacou que as vacinas têm sido um “instrumento importante”. E que o Brasil adquiriu 650 milhões de imunizantes e tem doses asseguradas para toda a população. O ministro também insistiu que uma das prioridades do governo Bolsonaro tem sido a “luta contra a corrupção”, apesar das denúncias apresentadas pela CPI da Covid, no Senado. Ou ainda dos recentes escândalos, revelados neste final de semana, que mostra uma “farra” com dinheiro público para caminhões de lixo e desvios de recursos sociais para a compra de tratores a aliados do governo. 

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Vergonha internacional

Ainda segundo Jamil Chade, Queiroga também ignorou temas caros da agenda internacional como a negociação de um novo tratado global contra a pandemia e o debate sobre o regulamento sanitário internacional. Não houve menções também à reforma da OMS ou à guerra na Ucrânia. Mas o ministro reforçou a oposição às propostas da organização de descriminalizar o aborto e fez campanha eleitoral de Bolsonaro. 

“Constrangedor”, escreveu em suas redes sociais o senador Rogério Carvalho (PT), pré-candidato ao governo de Sergipe. “Mais uma vez, o governo Bolsonaro transforma o Brasil em vergonha internacional ao omitir o desastre que foi a condução da pandemia. A CPI da Covid provou os crimes cometidos e destravou a vacinação. Essa verdade eles omitem”, ressaltou o parlamentar. O atraso na compra das vacinas também foi lembrado pela deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ). “Ridículo! O ministro se esqueceu da demora na compra das vacinas e do acordão para comprar a Covaxin mais cara? Ninguém é inocente para acreditar nesse governo negacionista e corrupto!”, tuitou. 

“A cara de pau é sem limites”, acusou o deputado Rogério Correia (PT-MG). “Nesse governo, o ministério da saúde é um misto de incompetência, corrupção, negacionismo e mortes”, completou o também deputado federal Paulo Guedes (PT-MG). 

Pandemia longe de terminar

O tom do ministro da Saúde também contrastou com o discurso do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Durante a assembleia, o dirigente ressaltou que o “mundo não estava e continua não estando preparado” para lidar com uma emergência sanitária. Ele ainda alertou que “a pandemia está longe de terminar”, chamando atenção para os números que voltaram a crescer em 70 países do globo. Tedros também criticou que, em meio ao momento ainda crítico, governos, como o brasileiro, estão estabelecendo o fim da emergência sanitária. O que, no caso do Brasil, coincide com o início do processo eleitoral. 

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Aos ministros de todo o mundo, o diretor-geral da OMS frisou que “em muitos países, as restrições foram retiradas e a vida parece como antes. A pandemia acabou? Não. Certamente não terminou. Não era a mensagem que vocês queriam ouvir. Não é o que eu queria dizer. Mas é a realidade”, alertou. 


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