Com Juca Kfouri

Brasil atua na ONU para ‘desmontar direitos’, afirma Jamil Chade

Em participação no programa “Entre Vistas”, jornalista avalia desempenho do país na Conselho de Direitos Humanos do organismo internacional

Divulgação / ONU
Divulgação / ONU
Brasil destacou "atuação nas três dimensões do tempo. Passado, presente e futuro, que estão entremeadas e são indissociáveis"

São Paulo – Direto da Suíça, o jornalista Jamil Chade conversou com Juca Kfouri no programa Entre Vistas, transmitido na noite de ontem (10) pela TVT. Há mais de 20 anos atuando na cobertura internacional, Jamil tem hoje seu escritório localizado na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra.

Entre os diversos órgãos da ONU, está o Conselho de Direitos Humanos, que o Brasil integra, segundo Jamil, a partir de uma posição destrutiva adotada pelo governo Bolsonaro nos últimos três anos. “O Brasil tem hoje uma posição destrutiva no Conselho de Direitos Humanos, ele tem como missão desmontar esse arcabouço de direitos humanos, porque tem uma concepção muito clara da extrema direita no mundo de que nós temos de substituir esses direitos adquiridos ao longo de tantas décadas por algo novo. Mas para fazer isso, o que obviamente é algo fechado, reacionário, que não abre para novos direitos, tem que desmontar o que existiu nos últimos 70 anos”.

É dentro da ONU que os estados-membros da organização discutem a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura três semanas. Jamil tem acompanhado de perto o conflito e os reflexos dele, e critica a cobertura feita pelos veículos de comunicação sobre o assunto.

Em meio à guerra entre os dois países, estão os mais de 2,15 milhões de civis ucranianos que deixaram seu país de origem em busca de paz, de acordo com a agência da ONU para refugiados, a Acnur. Entre eles, estão as mulheres ucranianas, alvos de discursos violentos e machistas do deputado paulista Arthur do Val, mais conhecido como Mamãe Falei.

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Na semana passada, em sua coluna no portal UOL, Jamil Chade publicou uma carta direcionada ao parlamentar, em que narra episódios que evidenciam a fragilidade da vida das mulheres em meio aos conflitos armados. “Quantas mulheres já viveram isso e não demos a atenção devida?! (…) É indigesto imaginar a quantidade de mulheres e meninas que gritaram essas coisas e não foram escutadas”, afirmou.

Reinvenção do futuro

Além de atuar, nos últimos 20 anos, na cobertura internacional, Jamil Chade também se dedica à literatura. Dois de seus livros já foram finalistas do Jabuti, o mais tradicional prêmio literário brasileiro. No próximo dia 28, o jornalista irá lançar sua mais nova publicação, intitulada Luto: reflexões sobre a reinvenção do futuro, que reúne pensamentos do autor sobre a pandemia e suas consequências sociais.

“Quando eu falo em reinvenção do futuro é porque não podemos voltar à pré-pandemia. Eu temo que vá voltar, mas temos que relembrar o que era a pré-pandemia; eram quatro bilhões de pessoas que não tinham nenhuma proteção social no mundo; eram três bilhões de pessoas que não tinham água encanada em casa. Hoje, três bilhões de pessoas não receberam a vacina ainda, a primeira dose. Ou seja, voltar para esse mundo que a gente deixou em 2019 é construir o próximo fracasso, a próxima crise.”

Confira o Entre Vistas desta semana