Questão de índole

‘Deputados como Mamãe Falei são os mesmos que votam por retirada de direitos’

Para deputada estadual Professora Bebel (PT), Comissão de Ética da Assembleia Legislativa aprovará cassação de Arthur do Val

"Mamãe Falei tem histórico de desrespeito não só com as mulheres, mas com a classe trabalhadora", afirma Bebel

São Paulo – Para a deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha, a Professora Bebel, líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), as falas sexistas e racistas do também deputado Arthur do Val (Podemos), o Mamãe Falei, alertam para a importância de a população saber em quem está votando, com base no histórico do candidato. “E não votar só por votar, nem desacreditar da política porque querem nos fazer desacreditar da política para votarmos de qualquer maneira”, afirma. 

Bebel concedeu entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual, nesta edição especial do Dia Internacional da Mulher. Presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), a parlamentar analisa que esses deputados com “ações misóginas, machistas, homofóbicas e racistas” são os mesmos “que não têm compromisso com a população e voltam pela retirada de direitos”. “Isso deixa claro para a população paulista porque é importante pensar muito antes de apertar a tecla e ver em quais deputados e deputadas nós devemos votar.” 

Integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e filiado ao Podemos desde janeiro para disputar a eleição ao governo de São Paulo, Mamãe Falei, assim conhecido por seu canal no YouTube, teve áudios expostos em que afirma que as ucranianas seriam “fáceis por serem pobres”. Mas, em meio à indignação internacional provocada por sua “empolgação”, como ele mesmo classificou seu gesto, sua candidatura já caiu. O parlamentar estava em visita à região de guerra nas fronteiras do país e aos amigos compartilhou mensagens afirmando ainda que a fila de refugiados tinha mais mulheres bonitas “do que a melhor balada do Brasil”.

Histórico de polêmicas

De acordo com a deputada, no entanto, o Mamãe Falei “já tinha uma sucessão de desrespeitos semelhantes não só com as mulheres, mas com a classe trabalhadora”. Autodeclarado defensor de pautas liberais e da direita conservadora, Arthur do Val já promoveu ofensas a servidores públicos e sindicalistas, chamados por ele de “vagabundos” em audiências na Alesp. O deputado também foi apoiador do atual presidente da República Jair Bolsonaro. “De fato, é típico dele esse rebaixamento dos seres humanos na sua totalidade. E olha que contradição: ele diz que estava na Ucrânia prestando ajuda humanitária”, critica Bebel. Além disso, o parlamentar fez uma espécie de propaganda de turismo sexual, afirmando que reservaria uma nova viagem no ano que vem para o Leste Europeu assim que voltasse ao Brasil.

A deputada Professora Bebel é autora de uma das 12 representações já protocoladas contra Mamãe Falei na Alesp. Ontem (7), o Conselho de Ética da Assembleia recebeu os pedidos que, em sua maioria, pedem a cassação do mandato do político. A previsão é que nesta quarta (9) ocorra a votação para unificação dessas representações. O deputado passará então a ser investigado pelo comitê por causa de suas declarações desqualificadas sobre as mulheres ucranianas. 

Pedidos e cassação

Segundo a liderança do PT, a cassação deve ser encaminhada. Bebel afirma ter conversado com a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), presidenta do Conselho de Ética, que ressaltou já ter aprovado no regimento que casos como esse não precisam passar por votação para admissibilidade. “Então, considero um avanço. Porque antes formava um lobby e nem se admitia. Agora não. Desse modo, tenho certeza de que será admitida (a denúncia)”, analisa Bebel. A deputada acrescenta ainda ter “a mais clara certeza de que a Alesp votará pela cassação de Arthur do Val”. 

“Espero, portanto, diante de tantas representações, que a cassação seja encaminhada. Não estamos sendo duras demais, ele foi duro demais conosco, essa é a questão. Não dá para inverter. Quando estamos em um cargo público, e mesmo fora dele, temos alcance e limites. E o direito de um termina quando o do outro começa. Ele não tem o direito de fazer isso, seja com mulheres, homens, ou com quem quer que seja”, ressalta.

À imprensa, Mamãe Falei atribuiu o conteúdo sexista dos áudios a um “erro em um momento de empolgação”. Ele retirou sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, afirmou que se afastará do MBL, mas, ao jornal Folha de S. Paulo, argumentou que só está preocupado com o fim de seu namoro. 

Saiba mais na entrevista 

Redação: Clara Assunção


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