Violação da liberdade

Bolsonaro ‘constrange’ servidores com distribuição de livros na PRF recomendando a Bíblia

Sob justificativa de atenção integral à saúde, o governo Bolsonaro decidiu distribuir livros orientando a leitura diária de versículos da Bíblia. Servidores falam em “violação da liberdade religiosa”

Reprodução/Globonews
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Nas redes sociais, internautas também criticam uso do dinheiro público no material, considerado inadequado, distribuído na Polícia Rodoviária Federal

São Paulo – Para a deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ), o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) “constrange” os servidores da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com a distribuição de livros na corporação, recomendando a leitura diária de versículos da Bíblia. Por meio de suas redes sociais, a parlamentar criticou a ação da presidência, revelada nesta sexta-feira (26) pelo canal GloboNews.

De acordo com a reportagem, em mensagem encaminhada aos servidores, a PRF tratou a distribuição dos livros como uma “assistência espiritual” para os servidores. O Ministério da Justiça também justificou que a medida faz parte da “atenção à saúde integral dos policiais” em razão do estresse das atividades. A entrega dos livros na PRF é parte de um “projeto da fé” do governo Bolsonaro, que recomenda orações diárias. A orientação é que o material seja distribuído em todas as superintendências estaduais da PRF. 

“Estimular a espiritualidade, contribuindo para o bem-estar e qualidade de vida do servidor PRF, melhorando o seu desempenho nas atividades diárias. (…) Sugerimos o uso coletivo do livro, no próprio ambiente de trabalho”, destacam trechos dos documentos do projeto Capelania.

Na avaliação da deputada, o governo Bolsonaro viola a separação entre Estado e religião. “Até quando vamos precisar reforçar que o Estado é laico? Essa atitude constrange!”, tuitou Talíria. “Nos deixem com a liberdade de cultuar ou não o que quisermos”, acrescentou às críticas. 

Servidores incomodados

Os servidores da PRF também se mostraram incomodados com a distribuição dos livros. Ao veículo, os policiais relataram que a presença da religiosidade no ambiente de trabalho “se dá de forma injustificada” e pode ser entendida como uma “violação de liberdade religiosa”, uma vez que não são contempladas todas as religiões e exclui aqueles que não professam nenhuma fé. 

Para eles, há de fato um “constrangimento”.”Apesar de não ser obrigatório, o projeto de distribuição de livros estimula o exercício da fé no ambiente de trabalho, duas coisas que não deveriam se misturar”, contestam. Procurada, a Polícia Rodoviária Federal afirmou que não registrou queixas na Ouvidoria sobre a distribuição dos livros. A corporação também alegou que servidores interessados em atividades de outras religiões devem apresentar um pedido para inclusão. 

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“As atividades de religiões não representadas formalmente – não só as de matriz africana, mas também budistas, hinduístas, muçulmanos, entre outras – poderão ser realizadas no âmbito da Instituição, mediante solicitação dos servidores interessados e demanda que as justifique, cabendo ao servidor responsável pela gestão da Capelania PRF viabilizar o contato com os ministros religiosos dos credos solicitantes”, declarou. 

Repercussão negativa

Nas redes sociais, internautas também questionaram o uso do dinheiro público que deveria atender a saúde do policial na distribuição dos livros religiosos. A PRF negou ao canal que houve qualquer gasto com verba do Estado e que o projeto não obriga a participação de ninguém. O caso, contudo, repercutiu negativamente entre parte dos internautas.