Base de Arruda tenta manter comando da Câmara do DF

Renúncia do presidente da Casa, acusado de participar de esquema de corrupção, força nova eleição e tira vice, da oposição, do comando

Primeiro-secretário Wilson Lima (PR), da base de Arruda, é um dos nomes cotados para a presidência da Câmara (Foto: Silvio Abdon/CLDF)

A Câmara Legislativa do Distrito Federal (DF) tem sete dias para definir o novo presidente da Casa. Com a renúncia do deputado distrital Leonardo Prudente (ex-DEM, sem partido) do cargo, a base do governador José Roberto Arruda (ex-DEM, sem partido) se articula para manter o comando da casa.

Na carta enviada à Mesa Diretora da Câmara, Prudente apenas comunicou a renúncia, em duas linhas, e não explicou os motivos para deixar o cargo. Afastado pela Justiça do DF, Prudente adbicou do cargo, o que, conforme prevê o regimento, força novas eleições. Com isso, a base de Arruda evita que o presidente em exercício, Cabo Patrício (PT), de oposição, seja mantido no posto.

O presidente em exercício Cabo Patrício qualificou como “puxadinho do Executivo” a Câmara Distrital, em entrevista ao Terra Magazine. “Ficar numa presidência onde não há autonomia? Para a Câmara continuar sendo o puxadinho do Executivo, eu prefiro não participar”, completou. “A base continua manobrando para evitar as investigações e agora (com um deputado da base aliada no comando da casa) vai ficar muito mais fácil de enterrar as coisas”, lamenta.

O ex-presidente da Câmara foi filmado por investigadores da Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora guardando dinheiro na meia. Ele é acusado de envolvimento no esquema de propinas a parlamentares em troca de apoio político. Ele permanece com o mandato de deputado, embora tenha faltado à sessão de segunda-feira (25).

A data da eleição será definida nesta terça-feira (26), em negociação entre os deputados. Os favoritos na disputa são os dos governistas Wilson Lima (PR), Eliana Pedrosa (DEM) e Raimundo Ribeiro (PSDB). A democrata e o tucano eram secretários de governo até o início da crise. A oposição, minoritária, deve apresentar candidato, mas tem poucas chances de vencer.

Parlamentares da oposição agora pressionam para que Arruda deixe o governo do Distrito Federal. “As denúncias que pesam sobre o deputado Leonardo Prudente são as mesmas que pesam sobre o Governador”, disse Paulo Tadeu (PT). “Por isso, não há lógica em pressionar Prudente para que renuncie ao cargo e não fazer o mesmo com Arruda. Esta Casa não pode fazer uso de dois pesos e duas medidas”, afirmou.

Dissidência

A base de Arruda sofreu um desfalque nesta terça. Alírio Neto (PPS) deixou o Bloco Democrático Popular, composto por dois parlamentares do PMDB mais Rogério Ulysses (ex-PPS, sem partido). Apesar disso, o governador mantém a maioria, com pelo menos 15 dos 24.

Alírio era o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Codeplan (também chamada de da Corrupção, ou do Mensalão do DEM), responsável por declarar a comissão inativa. Por causa da medida, a direção nacional do PPS pediu esclarecimentos, temendo desgastes por manter o partido associado à base de Arruda.

Além dos três integrantes do Bloco Democrático Popular, a base conta ainda com quatro Bloco Democrático Trabalhista (dois do PSDB e dois do PTB), cinco do Bloco Progressista Republicano (três do PR, um do PP e um do PRP), além de dois do DEM e um do PSC, que não compõem blocos. O PT tem quatro integrantes. PMN e PDT têm um deputado cada, atualmente fora da base.

Depoimento adiado

Foi adiado o depoimento do ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda, Durval Barbosa, em audiência com os integrantes da CPI da Codeplan. A intervenção do principal denunciante do inquérito da Polícia Federal pediu, por meio de sua advogada, Margareth Maria de Almeida, um ofício com o pedido. O depoimento ocorreria na Superintendência da PF.

O requerimento foi lido em sessão ordinária de segunda, o que levou a seu encerramento para discutir a questão. Durval pediu mais dados relacionados a ações, inquéritos e procedimentos para responder aos questionamentos dos deputados. Não foi definida nova data para a Comissão.

Oficialmente, a CPI foi declarada inativa na semana passada, diante de decisão judicial que neutralizou sessões da Câmara que tivessem a participação dos acusados. Apesar disso, a oposição prometia manter o depoimento, em vista da operação logística envolvida e da programação da Polícia Federal.

Ao depor ao Ministério Público, Durval Barbosa acusou mais de 30 pessoas e empresas de participarem do esquema de desvio e distribuição de recursos públicos à base aliada do governador de Arruda.

Com informações da Agência Brasil