Como esperado

Anderson Torres nega interferência da Polícia Rodoviária no segundo turno

Ex-ministro diz à Polícia Federal que foi à Bahia antes das eleições para vistoriar obra. Ele é suspeito de operação para impedir eleição de Lula

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR

São Paulo – Em depoimento à Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (8) o ex-ministro da Justiça Anderson Torres negou ter participado de operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que, no segundo turno das eleições de 2022, realizou várias blitze em estradas do Nordeste que dificultaram a chegada de eleitores aos locais de votação. A suspeita é de que Torres teria orientado a PF da Bahia para que atuasse com a PRF local para intensificar as blitze em locais em que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia recebido mais votos do que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno.

Durante a oitiva, Torres disse que estava na Bahia seis dias antes do pleito. Ele teria viajado a convite do então diretor-geral da PF, Márcio Nunes, a pretexto de visitar uma obra da Superintendência da corporação no estado.

Questionado, ele negou ter buscado apoio da PF para realizar as blitzes em rodovias do Nordeste e afirmou que sua única preocupação era “o combate a crimes eleitorais, independentemente do candidato ou partido.”

Diferenciado

O ex-ministro confirmou aos investigadores ter recebido um boletim da ex-diretora de inteligência do ministério, Marília Alencar, que dava detalhes sobre quais cidades do país Lula havia sido mais votado no primeiro turno. No entanto, sustentou que não apresentou a planilha nem à PRF nem à Polícia Federal.

Os investigadores acreditam que o boletim serviu de base para o ex-ministro planejar e coordenar uma fiscalização intensa em rodovias, sobretudo do Nordeste, justamente entre os dias 28 e 30 de outubro. Em três dias, a PRF abordou 2.185 ônibus em estradas nordestinas, ante 571 no Sudeste.

A ação, inclusive, contrariou ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Eleitoral, para garantir o livre acesso às urnas pela população. Contudo, Torres afirmou jamais ter interferido em planejamentos operacionais da PF e da PRF e disse que não houve nenhuma determinação para atuação conjunta dessas corporações no dia do pleito.

Anderson Torres “piora”

Após o depoimento, Torres deixou a sede da PF em Brasília e retornou ao Batalhão de Aviação Operacional da Polícia Militar do DF, onde está preso desde janeiro por suspeita de omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro.

De acordo com os advogados do ex-ministro, ele mantém “a postura de cooperar com as investigações”. A PF pretendia ouvi-lo em 24 de abril, mas adiou a oitiva para esta segunda a pedido da defesa, que alegou “piora” no estado de saúde do bolsonarista.