Teatro

‘Nise foi à CPI com objetivo de mentir e espalhar desinformação’, afirma Padilha

Médica bolsonarista Nise Yamaguchi dedicou sua fala na CPI da Covid para defender o uso da cloroquina, comprovadamente ineficaz contra o vírus

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
Além do negacionismo científico, Nise não soube responder a diferença de um vírus para um protozoário

São Paulo – A médica bolsonarista Nise Yamaguchi dedicou sua fala em outiva na CPI da Covid a defender o uso da cloroquina contra o coronavírus. O medicamento é comprovadamente ineficaz contra a doença por diferentes estudos analisados por órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa. Além do negacionismo científico, Nise não soube responder a diferença de um vírus para um protozoário. Seu depoimento foi alvo de muitos comentários nas redes sociais.

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O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), médico infectologista e ex-ministro da Saúde, demonstrou preocupação com a conduta de apoiadores do governo na CPI. Isso porque, segundo o parlamentar, utilizar o espaço de investigação para disseminar desinformação. “O dia de hoje deixou ainda mais claro que a CPI ou qualquer outro espaço não pode ser palco para negacionistas. O resultado do negacionismo televisionado é mais mortes”, disse Padilha. Ele classificou a depoimento de Nise Yamagushi como alinhado com o discurso de presidente Jair Bolsonaro, que negligenciou o programa nacional de vacinação.

O ex-ministro observou ainda contradições no depoimento de Nise. Por exemplo, ao dizer que não propôs mudança na bula da cloroquina por decreto, o que já foi confirmado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. “Nise Yamaguchi foi à CPI com o objetivo de mentir e espalhar desinformação ao povo brasileiro. Mentiu ao falar que não encontrou Bolsonaro e que não falava com o presidente. E espalha falsidades sobre o tratamento precoce”, disse Padilha.

Desinformação

O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino ganhou notoriedade com análises e alertas sobre as necessidades de maiores cuidados com a covid-19. E disse ter ficado impressionado com o descaso com a ciência em depoimentos da CPI: “Mas o volume de desinformação por segundo de fala na CPI agora é impressionante… argumentação freestyle”, ironizou.

Questionado sobre o currículo de Nise, que é oncologista e imunologista, Atila disparou: “Já vi doutor em virologia, com quem divido o título, que não sabia responder como funciona um vírus. Foi quando vi na pele que certificado nem sempre indica qualificação”.

Mentir é o fim

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que também é médica, manifestou decepção. “É triste ver médicas negarem a ciência e colocarem vidas em risco em virtude de seus interesses ideológicos. Mentir deliberadamente por diversas vezes em uma CPI sobre assuntos de tamanha gravidade é o fim”, disse.

“Dra Nise Yamaguchi propaga tratamento precoce mas não sabe nem diferenciar vírus de protozoário, como ficou exposto na CPI. Também não deve saber reconhecer um verme”, comentou Ivan Valente (Psol-SP).

Em compensação, defensores do bolsonarismo e do negacionismo científico repetiram a estratégia de tentar desmoralizar a CPI. Um deles foi o pastor Silas Malafaia, apontado pela comissão como “guru” do presidente para assuntos diversos. “CPI de covardes e frouxos. Cambada de arregão”, escreveu em sua rede social.

Já Erika Hilton (Psol-SP), resumiu a atuação de Nise na pandemia. “Evento com 10 mil médicos voluntários em defesa da Cloroquina, articulação com (o empresário) Carlos Wizard, lobby por tratamento precoce, TUDO ISSO ocorria enquanto o governo ignorava os emails da Pfizer sobre as vacinas!”


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