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Reação de Flávio Bolsonaro na CPI deve ligar sinal de alerta, diz Marcelo Rubens Paiva

Flávio Bolsonaro interveio na CPI da Covid após o ex-aliado Wilson Witzel citar milícias do Rio de Janeiro, crise de hospitais do RJ e caso Marielle

reprodução/facebook
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Witzel (dir.) participou de ato em 2018 com bolsonaristas que quebraram uma placa em homenagem à Marielle. Agora, ele atribui investigação do crime à sua queda

São Paulo – O dia na CPI da Covid foi marcado por denúncias e debates intensos durante o depoimento do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, que acabou antes do previsto. Isso porque Witzel abandonou a sessão, ao fazer uso do de habeas corpus concedido ontem (15) pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal. Antes, o ex-governador causou apreensão ao associar a sombra do bolsonarismo a crises graves do Rio de Janeiro, que vão do controle de hospitais federais no estado às investigações do assassinato de Marielle Franco. Ao relacionar as crises com a influência da milícias nas política do Rio, Witzel despertou reação intempestiva na CPI do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), o filho 01 do presidente da República.


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A intervenção de Flávio Bolsonaro na CPI causou reação de internautas, como o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, que afirmou temer pelo futuro próximo do país diante da forma arbitrária como o bolsonarismo atua. “Assim é o bolsonarismo: Flávio Bolsonaro entrou, agrediu, xingou, tumultuou a CPI, tudo fora de hora, sem ser convidado ou ter direito a fala. Preparem-se. Em 2022, vai ser pior”.

O músico Marcelo D2 também chamou atenção para a conduta. “Mano os cara são muito mafiosos, o 01 foi lá intimidar um depoente da CPI na cara de todo mundo…. Só faltou mostrar a coronha da arma”, escreveu, em referência à postura belicista de Flávio Bolsonaro e seguidores. Nas redes, o cartunista Carlos Latuff destacou que Witzel tem muito a dizer para a CPI sobre a pandemia e também sobre a relação de milícias com o assassinato de Marielle. “Por ora, foi até o Senado pra dizer o que queria e deixou a tropa de choque bolsonarista no vácuo”.

Em meio ao clima pesado, e sob o benefício do habeas corpus, Witzel deixou o Senado prometendo voltar, mas solicitando depor em sob sigilo. Desta forma, pretende evitar a participação de terceiros que visam a “tumultuar a CPI”, como Flávio Bolsonaro. “Na CPI, Witzel diz que investigação sobre morte de Marielle fez Bolsonaro o perseguir. A afirmação é muito grave e revela a lógica miliciana que está nas atitudes políticas do presidente da República”, afirmou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).


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A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que representou a bancada feminina, ressaltou que as informações trazidas pelo ex-governador Witzel de que milícias estimulavam carreatas contra medidas de isolamento e até obrigaram o comércio a reabrir são graves e precisam ser apuradas. E afirmou que “fica claro que esses grupos criminosos já estão dentro da política”.

Entretanto, a relação de Witzel com o clã Bolsonaro no Rio de Janeiro acabou sendo lembrada, já que ele fez parte da onda da extrema direita representada pelo presidente ao se eleger em 2018. “Hoje a CPI foi uma rinha de bolsonaristas. Witzel foi eleito com mesma camisa de Senador Jorginho, Girão, Flavio Bolsonaro, Helio Negão, Marcos Rogerio, Queiroz. Houve desentendimento sobre 2022 e na investigação da Marielle”, observou o deputado Ivan Valente (Psol-SP).

Valente fez referência aos senadores Jorginho Mello (PL-SC) e Eduardo Girão (Podemos-CE). Isso porque ambos fazem parte do grupo de parlamentares que defendem Bolsonaro na CPI, e protagonizaram atritos com Witzel. Já Flávio Bolsonaro, que eventualmente aparece na CPI com intervenções bruscas (chegou a xingar o relator Ranan Calheiros de “vagabundo”), novamente causou tumulto. Calheiros (MDB-AL) também reagiu à presença do filho do presidente. “Houve hoje na CPI uma tentativa de intimidar o depoente por parte do filho do presidente. Entre falta de educação e ameaças, a comissão segue seu trabalho para iluminar o caminho que nos trouxe ao morticínio.”

Muito a esclarecer

Também pelo Twitter, o deputado estadual Flávio Serafini (Psol-RJ) cobrou esclarecimentos de Witzel e respeito à memória de Marielle foi. “Se Witzel sabe alguma coisa sobre o assassinato de Marielle Franco, deve falar imediatamente. Declarações soltas no meio de uma CPI, feitas por quem há pouco se juntava aos que desrespeitam a memória da nossa companheira, não ajudam”.

O roteirista e comediante carioca Antonio Tabet, fundador do Porta dos Fundos, também se manifestou. “Witzel se elegeu porque era unha e carne com Bolsonaro. O então governador do Rio teve acesso a informações privilegiadas e, depois de perder o cargo e sentir-se traído, faz questão de ir até a CPI e sublinhar o nome de… Marielle. Não pode ser por acaso”.