CPI da Covid

Witzel ameaça revelar ‘fato gravíssimo’ e diz que hospitais federais no Rio ‘têm dono’

Em seu depoimento, ex-governador também nomeou deputados bolsonaristas que “organizavam” carreatas e manifestações contra isolamento e combate à pandemia no estado

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
"Os hospitais federais são intocáveis, têm ‘dono’ e essa CPI pode descobrir quem é o ‘dono’", disse Witzel

Sãoi Paulo – Antes de pedir o encerramento da sessão da CPI da Covid nesta quarta-feira (16), respaldado por habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel fez acusações sobre a interferência do governo de Jair Bolsonaro e seus aliados no estado e sobre a participação de aliados do presidente da República em manifestações contra medidas sanitárias de combate à pandemia de covid-19. Witzel afirmou que tem fatos “gravíssimos” a revelar sobre interferências do governo federal no estado e atuação de milícias.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, perguntou a Witzel se houve atuação miliciana contra as medidas restritivas no Rio de Janeiro. “Não posso afirmar, porque as carreatas (durante seu governo) eram muito bem organizadas contra medidas de isolamento”, respondeu o depoente. “Quais parlamentares participaram das carreatas?”, quis saber Randolfe. “Não participavam, organizavam”, respondeu o ex-governador. Ele destacou como organizador das manifestações o deputado estadual  Filippe Poubel (PSL), “um dos mais violentos”.

Em 27 de maio, o parlamentar bolsonarista invadiu  hospital de campanha para o enfrentamento ao coronavírus em São Gonçalo. “Eu ia ser calmo, brando, nessa fiscalização. Agora, vou tocar o terror”, disse o deputado na ocasião. Ele estava acompanhado por seguranças armados, segundo matéria da Folha de S. Paulo à época. Witzel citou também como organizadores de manifestações e ataques a medidas de combate à pandemia os deputados estaduais Anderson Moraes (PSL) e Alana Passos (PSL), e o federal Otoni de Paula (PSC-RJ). Segundo o ex-governadores, estes eram “os principais articuladores de carreatas” pela reabertura do comércio e pelo chamado isolamento vertical no Rio.

Milícias e hospitais federais

Randolfe quis saber se os próprios atos contra as medidas restritivas no Rio tiveram atuação de grupos milicianos. “Bem provável”, respondeu o ex-governador. O vice-presidente da CPI da Covid continuou no tema e questionou Witzel se haveria milícias à frente do hospital federal de Bonsucesso. “Os hospitais federais são ‘intocáveis’”, respondeu. “Ninguém mexe ali, têm ‘dono’, e essa CPI pode descobrir quem é o ‘dono’”.

O senador perguntou então se o depoente “poderia indicar um caminho” para se chegar a quem são os “donos” dos hospitais públicos federais, em especial o de Bonsucesso. “Quebrando o sigilo do superintende que foi exonerado, das OS (Organizações Sociais) que prestam serviço e das empresas que prestam serviço às OS”, respondeu Witzel. Segundo ele, a quebra de sigilo deve ser feita sob segredo de justiça. “Se seguirmos nesse caminho chegaremos quem são os ‘donos’?”, insistiu Randolfe. “Certamente. Ali tem dono”, confirmou o ex-governador.

Queiroz reaparece

De acordo com Witzel, o impeachment que o derrubou do cargo definitivamente em 30 de abril foi um ato político e, a partir dele, Fabrício Queiroz passou a frequentar o Palácio Guanabara. Queiroz é ex-policial-militar e ex-assessor parlamentar do gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) quando este foi deputado estadual no Rio.

Reportagem de O Globo de 20 de abril mostrou que Queiroz foi ao Palácio Guanabara levar uma de suas filhas para ser nomeada a cargo na estrutura do governo estadual. “Tem foto disso. A filha de Fabrício Queiroz foi nomeada e depois da reportagem foi ‘desnomeada’. Depois do impeachment, (Queiroz) passou a frequentar o Palácio Guanabara. No meu governo não chegava nem perto”, disse Witzel.

Randolfe também perguntou sobre as relações do antigo vice e atual governador do Rio, Cláudio Castro, com Bolsonaro. “Ele já declarou que vai votar em Bolsonaro em 2022, faz campanha”, afirmou. Segundo ele, enquanto governava o estado os hospitais federais foram boicotados pelo governo de Bolsonaro e “durante a pandemia também não fomos atendidos, com o objetivo de asfixiar a gestão”, para fazer prevalecer a narrativa contra os governadores. O presidente da República adotou e continua usando o discurso contra governadores e as medidas de combate à pandemia para culpar as gestões estaduais pela crise sanitária no país.

Com questionamento objetivo, Randolfe Rodrigues passou a explorar possíveis intervenções indevidas do governo federal no Rio, como na superintendência da Polícia Federal no estado, e “outros tipos de pressão direta por alterações no governo”. “Há um fato gravíssimo que vou manter sigilo e, se houver a sessão (da CPI) em segredo de justiça, vou revelar”, respondeu o ex-governador. Segundo ele, o regime de recuperação fiscal do Rio só foi assinado pelo governo Bolsonaro após o impeachment que o tirou do Palácio da Guanabara.


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