Desafios

Perdemos a batalha política da classe média, diz governador, que pede ‘amplitude’

Ao lado de Haddad e de deputada do Psol, Flávio Dino avalia que sem a classe média não será possível sair da defensiva. "Não adianta ganhar hashtags"

Divulgação
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Para governador maranhense, formação de uma frente ampla precisa incluir diálogo com os "diferentes"

São Paulo – A esquerda perdeu “a batalha política da classe média”, que aceitou a pauta da corrupção como fonte de todas as tragédias sociais e politicas brasileiras, avalia o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), para quem é preciso recuperar hegemonia. “Setores majoritariamente da classe média é que estavam na rua ontem (domingo). E sem eles nós não revertemos a defensiva estratégica em que estamos desde 2013. Não adianta ganhar hashtags“, afirmou Dino na abertura do V Salão do Livro Político, na noite desta segunda-feira (27), no Teatro da Universidade Católica (Tuca), zona oeste de São Paulo. Ele dividiu a mesa com o ex-prefeito Fernando Haddad, a deputada estadual Erica Malunguinho (Psol), o ex-chanceler Celso Amorim e o ator Sérgio Mamberti.

Na análise do governador, existe uma direita política que é explicitamente preconceituosa e violenta, que não se envergonha, por exemplo, de arrancar uma faixa em defesa da educação na Universidade Federal do Paraná, e comemorar a ação. Essa direita ascendeu com a pauta da corrupção, que teria se “entranhado” na população como raiz de todos os males, pondo em segundo plano o que ele chama de “a maior das corrupções”: a desigualdade social. No governo Lula, principalmente, o país teve avanços “à brasileira, em zigue-zague”, mas a partir de 2013 “o sinal histórico se inverteu”.

“Eles conseguiram cindir o bloco histórico do lulismo”, disse o governador, para quem essa linha de pensamento, conhecida como lulismo, “com todas as suas insuficiências”, ameaçou um monopólio cultural e social brasileiro, exercido pela elite e pela classe média. “Não adianta blocarmos o bolsonarismo. Precisamos cindir o pacto antinacional e antipopular, e isolar o bolsonarismo hard. Precisamos ter amplitude.”

Dino voltou a falar em “frente ampla”, cujas tarefas precisariam ser definidas com nitidez, tendo a democracia politica como pré-condição. “Em segundo lugar, precisamos de uma agenda nacional, de produção, de crescimento econômico.” É preciso dar respostas efetivas à população, defendeu, ao destacar que 25% dessa população cozinha com lenha por falta de recursos para comprar gás de cozinha, oferecendo “propostas pertinentes” para a questão do emprego e ampliando prefeituras em 2020. “Se a gente tiver união, consegue dar resposta ao bolsonarismo.”

Professor de Direito Constitucional, ele disse considerar uma “violência” o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. E acrescentou que “uma das batalhas centrais” da esquerda deve ser a defesa da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “uma das maiores violências jurídicas já perpetradas neste país”. Isso teria acontecido, afirmou, porque Lula circulava na casa-grande, mas tinha a representação da senzala.

Mas ele considera que as manifestações pró-governo de domingo complicaram a situação de Bolsonaro, na medida em que o empurrou mais para o extremismo. “Ele uniu o bolsonarismo raiz.”