homenagem a marisa letícia

Lula: greves, espaguete, mídia, a primeira bandeira e os jovens na política

Em 54 minutos, Lula fez o mais aguardado discurso das últimas 72 horas, desde que Moro expediu o mandado de prisão. Lembrou da família, agradeceu Dilma e elogiou Manuela e Boulos

ricardo stuckert

Carregado pelos trabalhadores: ex-presidente lembrou das greves em 1979 e 1980, quando dirigia o sindicato

São Bernardo do Campo (SP) – Em 54 minutos, Lula fez o mais aguardado discurso das últimas 72 horas, desde que o juiz Sérgio Moro expediu o mandado de prisão. Às 10h40, ele saiu do prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pela primeira vez desde a noite de quinta-feira (5). Sereno, sério, sorridente, exaltado, lembrou dos tempos de sindicalistas e saudou a presença dos jovens na política, nas figuras de Manuela d´Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol), pré-candidatos à Presidência da República. 

Manuela, chamada de “garota bonita, militante do PCdoB” pelo ex-presidente, usava uma camiseta com a inscrição “Lula livre”. Boulos foi chamado de “menino” por Lula, que lembrou ter 33 anos na greve de 1978, ponto inicial das mobilizações que tomariam conta do ABC e do país a partir de então.

“Vocês têm que levar em conta a seriedade desse menino”, disse Lula, vendo  na presença dos dois “um motivo de orgulho e de uma perspectiva de esperança”. Eles estão, afirmou, “enfrentando a negação da política e assumindo a política”.

Lula foi o único a falar entre os políticos, em um carro de som com vários ex-ministros, como Gilberto Carvalho – que abriu o ato ecumênico –, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Celso Amorim. À ex-presidenta Dilma Rousseff coube fazer a leitura da Oração de São Francisco.

Gilberto Carvalho lê um texto em homenagem a Marisa Letícia, que completaria 68 anos justamente neste sábado. Lembra que seu primeiro marido morreu assassinado quando trabalhava como taxista – ela estava grávida e, posteriormente, Lula acolheu Marcos Cláudio como seu primogênito. Depois o casal teria Fábio, Sandro e Luís Cláudio. No discurso, falou do sofrimento vivido por sua família devido aos ataques constantes e atribuiu a isso, pelo menos em parte, a morte de sua companheira, em fevereiro do ano passado. 

Quando Gilberto falou que de italiano Lula tinha apenas o apetite e citou a preferência por espaguete à carbonara, o ex-presidente fez sinal de positivo com as duas mãos. Ele também lembrou que Marisa Letícia fez a primeira bandeira do PT, “num tecido vermelho vindo da Itália”.

Músicas e prisão

A “trilha sonora” do ato diante do Sindicato dos Metalúrgicos foi toda escolhida por Lula. Um grupo cantou Maria, Maria, Asa Branca, Deixa a Vida me Levar e Zé do Caroço. Também foram lidos trechos da 1ª Carta de Paulo aos Coríntios e do Evangelho segundo Mateus, além da Oração de São Francisco. Um telão foi posicionado para quem não conseguiu se aproximar do carro de som. Ficaram perto dele, entre outros, os jornalistas José Trajano e Palmério Dória e o publicitário Chico Malfitani, da Democracia Corintiana. 

O ex-presidente lembrou das greves em 1979 e 1980, quando dirigia o então Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema.”Eu nasci neste sindicato, aqui foi minha escola”, disse, lembrando inclusive de seu número de matrícula, de setembro de 1968.

Ele ficou preso no Dops, em 1980, quando o sindicato sofreu intervenção. “Agora estamos quase na mesma situação. Eu sou o único ser humano processado por um apartamento que não é meu. Eu sou um cidadão indignado. Eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão. Nenhum deles têm coragem ou dorme com a tranquilidade que eu durmo.”

Ele falou da necessidade de uma regulação dos meios de comunicação e ironizou a Rede Globo e a revista Veja: “O sonho de consumo deles é a foto do Lula preso”. Mas afirmou que “quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro”.