Eleições 2016

Bresser-Pereira: Haddad transformava São Paulo em cidade boa para morar

Professor e ex-ministro lamentou o discurso do candidato vitorioso de que não é um político: 'Pobre de um povo que valoriza tal discurso'. Renato Janine disse esperar 'algum tipo de união' da esquerda

Fábio Arantes / Secom

Praça de São Paulo com acesso gratuito à internet. Projeto de cidade humanizada perde espaço para “gestão eficiente”

São Paulo – Para o professor e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, o prefeito Fernando Haddad “repensou” São Paulo e realizou um trabalho “que ficará na história da cidade”. Em sua página no Facebook, ele avaliou que Haddad foi prejudicado pelos escândalos envolvendo o PT, e disse esperar que o candidato vitorioso, João Doria, dê continuidade à obra do prefeito, “que estava transformando São Paulo em uma cidade boa para se morar – uma cidade em que, segundo ele sempre afirma, a rua seja a extensão da nossa casa”.

Segundo Bresser-Pereira, foi isso que aconteceu, anos atrás, em Barcelona. “Para isto, ele (Haddad) repensou a cidade, e a dotou de um Plano Diretor e de uma Lei de Zoneamento inovadores, baseados nos corredores urbanos, nas faixas exclusivas para ônibus, nos prédios de uso misto combinando moradia, escritório e comércio, no aumento das áreas verdes, em um grande aumento das creches, em ruas reservadas para pedestres, em praças dotadas de Wi-Fi, e na redução da velocidade nas avenidas, que reduziu fortemente o número de acidentes e – sim! – aumentou a fluidez do trânsito, porque os automóveis pararam de dar tantas brecadas súbitas.”

Na avaliação do economista, divulgada dias antes da eleição, Haddad tinha “qualificações e um grau de espírito público muito superiores aos dos seus concorrentes”. Para ele, a única candidata com o mesmo espírito era a ex-prefeita e atual deputada Luiza Erundina (Psol).

Ao analisar o discurso de Doria, de que não é um político, Bresser-Pereira lamentou: “Pobre um povo que acredita e valoriza tal discurso”. Mas também fez referência à eleição de Eduardo Suplicy (PT) como vereador mais votado: “Rico um povo que sabe avaliar e reconhecer o papel dos homens públicos”.

Divisão

Para o também professor e ex-ministro Renato Janine Ribeiro, é momento de unir a esquerda. “Os partidos de esquerda precisam se colocar à altura de seus eleitores. Parece que estes querem a união na luta”, escreveu no Facebook.

Janine acredita que os eleitores foram “melhores” e “mais abertos” que seus partidos. “Na prática, os eleitores do PSOL que votaram em Haddad, os petistas cariocas que votaram em Freixo fizeram isso”, afirmou.

Ele espera que o PT se “repense” daqui em diante. “Quando o PSB deixou de ser de esquerda, com Eduardo Campos, o PT ficou como única força neste campo. O PSOL cresceu, mas tende a negar que o PT seja de esquerda. Bem, sem algum tipo de união, todos eles vão perder. O PT não tem herdeiro, não adianta matar o pai.”