Impeachment

Com poucos oradores, sessão começa com as mesmas discussões

Em vez de dar celeridade ao processo, senadores dedicaram primeiras horas a apresentar contradições, trocar farpas e discutir a denúncia de golpe pela base aliada e acusação de 'chicana' pela oposição

Geraldo Magela/Agência Senado

Senadores favoráveis ao impeachment ficaram incomodados com a qualificação de ‘golpistas’

Brasília – Iniciada com atraso de uma hora e meia, a sessão do Senado que aprecia a admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff hoje (11), ao contrário da celeridade que se esperava, está refletindo todas as discussões, contraposições e trocas de acusações observadas nos últimos meses no Congresso Nacional. Dos mais de 60 oradores inscritos, poucos conseguiram falar até agora e, nessa primeira parte dos trabalhos, os parlamentares tiveram de ouvir apresentações de cinco questões de ordem (que foram rejeitadas), acusações dos oposicionistas de que está existindo protelação dos trabalhos e denúncias da base aliada de que está em curso um golpe.

Uma das principais expectativas era quanto à resposta do Supremo Tribunal Federal (STF) ao mandado de segurança impetrado ontem pela Advocacia-Geral da União (AGU) pedindo a suspensão do processo. No entanto, o ministro Teori Zavascki negou o recurso.

Senadores favoráveis ao impeachment ficam incomodados como a qualificação de golpistas e rebatem com a de “chicana” por parte da base. Até as falas de jornalistas nos seus comentários para rádio e TV, feitos ao vivo das galerias do Senado, chamaram a atenção do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que chegou a pedir aos repórteres para moderar no som e evitar atrapalhar a sessão.

Dois destaques observados até agora foram as palavras dos senadores Paulo Rocha (PT-PA) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). Líder do partido, Rocha pediu aos colegas “serenidade e tranquilidade” e disse que, ao contrário dos oposicionistas, que têm demonstrado ânimos exaltados, os petistas “estão tranquilos”.

“Atuei durante anos na Câmara como deputado e sempre escutei que os senadores, por serem mais velhos e a maioria ter tido experiência como governadores, eram mais tranquilos e equilibrados. No entanto, não é isto que estou vendo aqui hoje. Quero dizer que enquanto vocês, da oposição, se desgastam quando são chamados de golpistas, nós passamos meses ouvindo vocês nos chamarem de criminosos e bandidos (durante a tramitação do processo do impeachment nas comissões especiais da Câmara e do Senado)”, argumentou o líder do PT na Casa.

Vamos praticar o bom debate e fazer uso da palavra como estabelece o regimento. Não há procrastinação nem qualquer manobra aqui. Vamos respeitar a todos, porque o momento exige isso, argumentou o líder do PT. Gleisi Hoffmann citou frase de Darcy Ribeiro: Há duas condições diante de situações difíceis, indignar-se ou resignar-se.

“Eu não vou me resignar nunca. Querem cancelar o futuro dos que repudiam o povo neste país. Foi assim com Getúlio Vargas, com João Goulart e agora estão fazendo com a presidenta Dilma Rousseff”, acrescentou Gleisi.

“É ridículo lembrar ou comparar, num processo irreversível e com tanto rigor nas argumentações feitas como este, as situações existentes com as que foram observadas nos governos de Getúlio e João Goulart”, disse Aloysio Nunes (PSDB-SP). “Não acho que esse tipo de discurso e manobras sejam uma atitude construtiva para esta Casa. O Brasil exige uma resposta de nós ainda hoje”, emendou o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB).

Outra “briga” foi observada entre a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG). Vanessa pediu o cancelamento da sessão por conta do que considera “suspeição”, por parte do relator, o senador e ex-governador Antonio Anastasia. A parlamentar lembrou que a jurista Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, confirmou ao Senado ter recebido R$ 45 mil do PSDB para elaborar seu parecer.

‘Situação suspeita’

“Um pedido de impeachment que teve como base parecer, pago por um partido de oposição ao governo, deu origem a este processo e a própria autora confirmou isso. O pedido tem, inclusive, uma folha com o timbre do PSDB nos autos da denúncia. Fica clara, portanto, a diferença do que aconteceu em 1992, no pedido de impeachment de Collor, que foi apresentado pela sociedade brasileira. O pedido que estamos votando hoje foi elaborado por um partido político e teve como relator um senador deste mesmo partido. Isso não é outra coisa, senão um golpe na nação e na democracia”, acentuou Vanessa.

A senadora pediu ao Congresso Nacional para avaliar “a seriedade e gravidade desta denúncia e o erro na condução do processo desde o início”. “Por conta disso, analisar estes detalhes é fundamental para que possamos dar um mínimo de regularidade ao processo”, acrescentou.

Aécio disse que como a própria Janaína afirmou, durante depoimento na comissão especial do impeachment do Senado, ela foi paga pelo PSDB para fazer o parecer, o que confirma que não tem vínculo com o partido. O senador defendeu-se e à sua legenda argumentando que “não é raro partidos e políticos fazerem pedidos e contratarem serviços de juristas para que façam pareceres”.