No Senado

Comissão especial define plano e prazos para impeachment

Maioria dos senadores quer que votação em plenário ocorra entre 11 e 13 de maio. Presidente da Casa, Renan Calheiros, discutirá o assunto hoje com Dilma,Temer e Lula

Geraldo Magela/Agência Senado

PT apresentou três questões de ordem para impedir a aprovação do nome de Anastasia como relator

Brasília – Senadores deram início hoje (26) às articulações relativas à admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na quinta-feira (28) haverá audiência pública com os denunciantes e autores do pedido de afastamento; no dia seguinte, será a vez da defesa da presidenta de manifestar e, se não houver atrasos neste rito, o relatório será apresentado no próximo dia 4. Dois dias depois, será votado na comissão, o que permitirá que a matéria vá a plenário entre os dias 11 e 13.

Governistas esperam que o fato de o relatório vir a ser apresentado poucos dias depois das manifestações dos movimentos sociais que estão previstas para serem realizadas no dia 1º de maio (domingo), pode ajudar a manter um clima favorável ao governo e contrário ao impeachment.

Houve fortes divergências hoje para a escolha do relator, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Mesmo já tendo sido acatada a rejeição ao nome da senadora Ana Júlia (PP-RS) pelo fato de ela ter sido considerada suspeita para relatar o processo, uma vez que é declaradamente contrária a Dilma, os integrantes da comissão decidiram votar – e aprovaram – o nome de Anastasia.

Por ser do PSDB, ele tem as mesmas condições de suspeição observadas em relação à senadora Ana Júlia, mas esta argumentação não foi aceita pela maior parte dos senadores que integram a comissão.

O resultado dessa escolha foi considerado uma derrota para o PT que apresentou três questões de ordem para impedir a aprovação. “Se temos a presidenta, que é do PT, sob julgamento, não é adequado que a comissão eleja para relator um senador do PSDB, justamente o partido que patrocina esta causa e cujo advogado é parte integrante do grupo de denunciantes”, protestou o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE). Segundo ele, “uma comissão assim começa mal, começa muito mal”.

Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que se a presidenta for afastada, o partido beneficiário, com um suposto governo do vice-presidente Michel Temer, será o PMDB “e não o PSDB”. A desculpa não convenceu os parlamentares da ala governista.

O senador Raimundo Lira (PMDB-PB), escolhido presidente por consenso na comissão, é considerado um parlamentar de posição dúbia. Até bem pouco tempo, desfrutava de bom relacionamento com o Palácio do Planalto e chegou até a interferir na nomeação de um dos nomes indicados para ocupar cargo na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Mas ele é do PMDB, motivo pelo qual faz olhos e ouvidos governistas se voltarem para sua postura dentro da comissão, na condução dos trabalhos e o posicionamento que adotará durante a sessão de votação. Até algumas semanas atrás, o senador demonstrava, em reservado, ter simpatia pelo impeachment da presidenta.

Nos últimos dias, quando seu nome passou a ser especulado para assumir a presidência da comissão especial, Lira passou a se manter mais discreto e tem dito oficialmente que não sabe ainda como se manifestará sobre o tema.

O relator também procurou atuar de forma discreta depois de ter sido escolhido. Anastasia disse que conduzirá seu trabalho com “responsabilidade e equilíbrio”. “O momento pelo qual passa o país é grave e precisamos de serenidade para que possamos concluir nos prazos devidos”, destacou.

Reuniões de Renan

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fará três reuniões isoladas nesta tarde para discutir o cronograma delineado pela comissão especial e o rito de votação da matéria no plenário da Casa.

A primeira será com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem receberá em sua residência oficial. A segunda será no final do dia com a presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, para onde se dirigirá no final desta tarde. E a terceira, à noite, com o vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, onde deve chegar por volta das 19h.