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Deputados rebatem Cunha e se recusam a ser apontados como políticos do mesmo nível

Embora dos 513 nomes da Câmara 132 sejam alvo de inquéritos ou ações penais, maioria diz que momento é de ‘moralizar o Legislativo’ e não quer passar imagem de que todos têm o mesmo perfil

Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

Clarissa Coutinho, sobre a possibilidade de Cunha escapar de cassação: “Saibam que eu não vou ficar calada”

Brasília – Vários parlamentares que fazem oposição ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reclamaram hoje (4) das investidas dele no sentido de manobrar para se defender, tentando colocar todos da Casa num mesmo perfil. Eles contestaram qualquer tentativa feita para generalizar a postura dos integrantes da atual legislatura e se recusaram a pertencer ao mesmo grupo de políticos do presidente. A reação teve como base declarações de Cunha de que vai esperar no cargo o final do processo do qual é alvo no Conselho de Ética e que, por enquanto, nada pesa contra ele porque, “se forem levados em conta os que estão sendo investigados no Judiciário, o número chega perto de 150 deputados”.

Cunha chegou perto em seus cálculos: atualmente 132 deputados, dos 513 que compõem a legislatura, respondem a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF), conforme estudo realizado em setembro passado pelo site Congresso Em Foco, confirmado por técnicos da mesa diretora. Mas lideranças da maioria que compõe a Câmara – os 381 demais parlamentares da Casa – disseram que é preciso ampliar o trabalho para retirar Cunha do cargo e conseguir “moralizar o Legislativo”.

Um dos mais expressivos em sua oposição ao deputado, o vice-líder do governo, Sílvio Costa (PSC-PE), acusou Cunha de “bandido, criminoso e corrupto”. Costa ressaltou que sua posição é pessoal e não fala em nome do Planalto, mas não poupou críticas ao desafeto. “Não tenho conta na Suíça e não sou corrupto. Não tenho medo de Eduardo Cunha, esta Casa não pode mais continuar sendo presidida por um criminoso”, acentuou, evitando ser igualado. Costa ironizou, ainda, que o presidente “tem passagem comprada para Curitiba”, em referência à cidade onde estão presos os envolvidos na Operação Lava Jato.

‘Não aceitamos ser confundidos’

Alessandro Molon (Rede-RJ), que também já travou vários embates com Cunha no plenário, afirmou que os deputados não podem aceitar “que a imagem da Câmara seja manchada e confundida com esse quadro de corrupção”. “Quem está sendo acusado e denunciado é ele. Não aceitamos ser confundidos com essas acusações e denúncias. Não queremos mais que o poder da presidência da Câmara seja usado para sua defesa pessoal”, disse.

Outro a se manifestar, o líder do Psol na Câmara, Chico Alencar (RJ), que foi objeto de uma representação parlamentar na última semana, lembrou sua história política e causas pelas quais lutou no parlamento. O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), apresentou representação contra Alencar com a acusação de que ele teria obrigado servidores do gabinete a fazerem doações para sua última campanha. Na avaliação do líder do Psol, essa investida partiu do presidente da Casa como estratégia para desviar o foco das acusações contra si.

Alencar, que é líder da legenda que apresentou a representação contra o presidente ao Conselho de Ética, afirmou que, no seu caso pessoal, tudo não passa de uma vingança de Cunha, usando como instrumento o deputado Paulinho. “Só faz esse tipo de acusação quem não conhece ou não tem respeito com minha história”, ressaltou.

Manipulador de posições

A deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), que na tarde desta quarta-feira fez um discurso acalorado contra Eduardo Cunha no plenário da Câmara, afirmou que espera que o Conselho de Ética não se transforme no que chamou de “conselho da vergonha”. De acordo com Clarice, o parlamentar “tem usado de todos os artifícios possíveis para manobrar e minimizar o processo que corre contra ele”. “Se por acaso for bem sucedido e a oposição e os deputados do seu grupo resolverem se calar, saibam que eu não vou ficar calada quanto a isso”, destacou.

Já Erika Kokay (PT-DF) lembrou que o que está em questão é o fato de a Câmara ter, hoje, um presidente que foi apontado em documentos dos Ministérios Públicos da Suíça e do Brasil como detentor de contas secretas fora do país. “Ele tem o direito de se defender, embora essa seja uma difícil tarefa, mas uma pessoa dessas não pode usar a cadeira de presidente para defender suas ideias e manipular suas próprias posições. Ele já tentou dar interpretações próprias sobre o regimento desta Casa e mudar votações. Não podemos continuar passando pelo constrangimento de ter um presidente assim”, acentuou.

Na mesma linha, a líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), afirmou que Cunha não mais reúne condições de presidir a Câmara e o momento é de se “construir instrumentos eficazes para a recuperação da ética e da democracia”. Também Ivan Valente ressaltou que “a instituição Câmara dos Deputados não pode continuar nessa situação: desmoralizada, em crise e tendo alguém assim na presidência”.

No final da tarde de hoje, o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), divulgará o nome escolhido para relatar o processo que corre contra Cunha no órgão. O nome está sendo aguardado com grande expectativa e os deputados contrários a Cunha prometem acompanhar o andamento dos trabalhos, além de pressionar para que os cumprimentos dos prazos e ritos regimentais sejam feitos com celeridade.