Governo pode deixar para próxima semana indicação de integrantes da CPI do MST

Deputado da base aliada afirma em entrevista à Rede Brasil Atual que tendência da CPI é ficar esvaziada pela aproximação do recesso

A base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso pode deixar para a próxima semana a indicação de seus integrantes na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que vai apurar repasses do Executivo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O deputado federal Zé Geraldo (PT-PA) afirma abertamente à Rede Brasil Atual que a grande tendência da comissão é de não avançar e de acabar esvaziada pelo recesso, que está a poucas semanas do início.

Como Aloizio Mercadante, líder do PT no Senado, está em viagem, a tendência é utilizar até o fim do prazo legal de cinco sessões para fazer as nomeações. O atraso viria em boa hora dentro da estratégia da legenda.

Pressionado pelo PMDB, o PT parece estar disposto a evitar a inclusão de parlamentares com ligações históricas ao MST. A opção seria moeda de troca para frear a entrada de ruralistas do maior partido de apoio ao governo.

Depois da nomeação, a CPI pode começar a funcionar, mas na base aliada já se trabalha com a ideia de que, assim como a comissão da Petrobras, essa também não provocará grande barulho.

Disputa

Fruto da ofensiva do agronegócio, a ideia de uma CPI do MST ganhou força com a ocupação de terras por integrantes do movimento em Iaras, no interior de São Paulo. A movimentação, tida como violenta pela destruição de pés de laranja, fez com que a abertura da comissão recebesse a adesão de parlamentares do governo, indignados com a ação ou temerosos de perderem votos em seus redutos eleitorais.

Para o deputado Zé Geraldo, sondado para integrar a comissão, o verdadeiro foco da CPI não é o MST. “A direção da CPI é o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), é mostrar que a reforma agrária é inviável, é improdutiva, que não vale a pena investir na pequena produção. Contra essa visão é que os parlamentares que têm uma inserção na discussão da agricultura voltada à pequena produção, como é o meu caso, vão trabalhar”, afirma.

Além disso, também está em disputa a atualização dos índices de produtividade, medida que aumentaria a quantidade de terras disponíveis para reforma agrária no país. O avanço do debate entre a direção do MST e o governo também entrou na conta de deputados e senadores ligados aos grandes proprietários de terras. A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmou confiar que não haverá revisão do índice.

O pedido foi feito a Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Reinhold Stephanes (Agricultura), dois ministros que abertamente não estão do mesmo lado. Enquanto Cassel defende a agricultura familiar e pede calma nas apurações sobre o MST, Stephanes é ligado ao agronegócio e entende que os sem-terra praticam agressões que devem ser punidas.

O deputado Zé Geraldo minimiza as diferenças e considera que um ministério não anula a existência do outro. Ele entende que o Desenvolvimento Agrário tem crescido à medida que aumentam os investimentos voltados aos pequenos produtores. Por outro lado, o parlamentar entende que a CPI pode ser o momento de debater aprimoramentos no processo de reforma agrária.

“O investimento em reforma agrária é significativo, mas há reconhecimento de que é preciso investimento maior e que é preciso rever modelos. Eu mesmo sou crítico da reforma agrária aqui na Amazônia. O governo gasta pouco na desapropriação de terras na região Norte, mas acaba investindo muito mais em infraestrutura dos assentamentos”, afirma.