NEGOCIAÇÃO

Rússia entrega condições para cessar-fogo e cobra resposta da Ucrânia

Para governo russo, ucranianos não revelam grande vontade de intensificar negociações. “A bola está do lado deles. Esperamos resposta”, diz porta-voz

Sputnik / Mikhail Klementiev
Sputnik / Mikhail Klementiev
Porta-voz da Rússia fala em possível encontro entre Putin e Zelensky, em Israel

São Paulo – A Rússia entregou à Ucrânia, nesta quarta-feira (20), um esboço de documento detalhando exigências para um cessar-fogo na guerra. Entretanto, de acordo com o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, a negociação segue difícil e o governo ucraniano “se afastou” de uma possível resolução.

“A bola está do lado deles. Esperamos resposta”, afirmou Peskov, que não falou sobre um prazo para resposta de Kiev. “Isso depende do lado ucraniano, mas voltamos a repetir: já dissemos várias vezes que a dinâmica de trabalho do lado ucraniano deixa muito a desejar. Por isso, digamos assim, os ucranianos não revelam uma grande vontade de intensificar o processo de negociações”, acrescentou.

O porta-voz da Rússia também falou de probabilidade de os presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, realizarem negociações em Israel em breve. Aleksandr Ben Zvi, embaixador de Israel em Moscou, já declarou que seu país está pronto para acolher um eventual encontro.

Armamento do Ocidente

Enquanto a paz segue distante, a Rússia renovou o ultimato para que os combatentes ucranianos na cidade de Mariupol se rendam e deponham as armas. Nos últimos dias, milhares de soldados russos, apoiados por ataques de artilharia e de mísseis, avançaram em diversas regiões no leste ucraniano.

Nos últimos dias, a Rússia e a Ucrânia anunciaram que a guerra está numa “segunda fase”, e não necessariamente próxima de um cessar-fogo. As tropas russas iniciaram uma ofensiva maior contra o leste ucraniano, focando em Donbass e Mariupol. Ontem, por exemplo, o chanceler russo, Serguei Lavrov, disse que começou “outro estágio” da operação e afirmou ter atingido 1.260 alvos militares, com mísseis e artilharia.

As tropas da Rússia continuam a cercar os militares na Ucrânia, no complexo siderúrgico Azovstal, o último bastião da resistência em Mariupol. Com a aproximação do fim do prazo dado por Moscou para que os soldados ucranianos se rendessem, o Kremlin estendeu o ultimato até hoje. O Ministério da Defesa da Rússia informou que nenhum soldado ucraniano se entregou até o momento.

Diante do avanço da Rússia, países como Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, prometeram enviar à Ucrânia novas remessas de armamentos. O presidente americano, Joe Biden, deve anunciar nos próximos dias um novo pacote de ajuda militar semelhante ao da semana passada, no valor de US$ 800 milhões. A Alemanha se comprometeu a enviar sistemas de defesa antitanque e antiaérea, além de financiar compras de armamentos por parte do governo ucraniano.

Bombas proibidas

Em reportagem publicada na última segunda-feira (18), o jornal americano The New York Times mostrou que forças ucranianas usaram bombas de fragmentação contra a cidade de Husarivka, na fronteira entre as províncias de Kharkiv e Donetsk, enquanto ela estava sob ocupação russa, em março. Essas bombas são vetadas por uma convenção internacional assinada por 100 países, mas sem a aprovação de Rússia, Ucrânia ou EUA.

As bombas de fragmentação espalham minibombas por uma grande extensão, que muitas vezes não explodem, tornando-se um perigo perene para civis e outros combatentes. Kiev, que denunciou o uso de bombas do tipo pelos russos como um crime de guerra, não comentou a reportagem.

Chamadas de munições cluster, elas são tratadas em convenção, em vigor em 2010, que admite danos indiscriminados que as armas podem causar a civis. Grupos humanitários notaram que 20% ou mais dessas bombas não detonam no impacto, mas podem explodir mais tarde, se forem apanhadas ou manuseadas.

“Não é surpreendente, mas é definitivamente desanimador ouvir que surgiram evidências indicando que a Ucrânia pode ter usado munições de fragmentação”, disse Mary Wareham, diretora de defesa da divisão de armas da Human Rights Watch.

Refugiados

Mais de 5 milhões de ucranianos fugiram de seu país após a invasão russa, segundo um novo balanço da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quarta. O número, segundo a ONU, configura o fluxo de refugiados mais acelerado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Os ataques da Rússia na Ucrânia ocorrem há 56 dias.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados da ONU (Acnur), 5.034.439 ucranianos deixaram o país desde que a Rússia iniciou a guerra, em 24 de fevereiro. Antes do conflito, a Ucrânia tinha 44 milhões de habitantes. Segundo o entidade, o conflito também deslocou mais de sete milhões de pessoas dentro do próprio país. Acredita-se que 13 milhões de pessoas estejam presas nas áreas afetadas pela guerra na Ucrânia.

A maioria dos ucranianos – cerca de 2,8 milhões de pessoas – foi para a Polônia. Lá têm direito a documentos de identificação nacional. E, assim, permissão para obtenção de trabalho, assistência médica gratuita, acesso a escolas para crianças e auxílio monetário para famílias com filhos pequenos.