Quente e frio

Mudanças climáticas acendem alerta para futuro próximo no Brasil

Fenômenos comuns como El Niño e La Niña ganham força em um cenário de mudanças climáticas. Secas e chuvas estão no cenário

Pixabay/CC
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Cabe às pessoas e ao poder público viabilizar soluções para mitigar seus efeitos

São Paulo – Eventos climáticos extremos mostraram a realidade das mudanças climáticas nos últimos anos. Particularmente, o Brasil sofre com dificuldades que exemplificam um novo período social. Estes eventos, de acordo com os meteorologistas, vieram para ficar. Então, cabe às pessoas e ao poder público viabilizar soluções para mitigar seus efeitos. Para o próximo período, que envolve inverno e primavera, existem previsões que acendem alertas.

Uma delas tem relação com a temporada de seca no Pantanal. Um dos biomas mais ricos do mundo viveu dias trágicos durante os anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Parte do desmatamento na região, bem como no bioma vizinho da Amazônia, foi revertido durante o período inicial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contudo, o cenário segue desafiador.

De acordo com previsões meteorológicas recentes, o Pantanal está em fase de início da seca. E as condições apontam para um período severo. “A cota está abaixo da média histórica e pode atingir níveis críticos entre setembro e outubro, quando as chuvas, normalmente, retornam na região, que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, informa registro da Agência Brasil, a partir de dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Seca no Pantanal

“Essa estação chuvosa – de outubro de 2023 a abril de 2024 – foi caracterizada por um déficit no volume de chuvas, que prejudicou a recuperação da bacia. Neste mês, era esperado em torno de 57 milímetros (mm) para a região e foi registrado volume inferior a 3 mm”, completa.

O pesquisador em geociências do SGB Marcus Suassuna explica que as perspectivas apontam para um cenário similar ao vivido durante o governo Bolsonaro. Na época, incêndios influenciados pela seca deixaram rastro de morte na biodiversidade e de fumaça que, inclusive, chegou até São Paulo.

“As projeções indicam que a mínima anual pode ocorrer em outubro, com cota negativa. Se chover dentro da média, teremos cenário semelhante ao ano de 2020. Caso as chuvas fiquem abaixo da normalidade, o cenário será mais grave e similar aos anos em que enfrentamos as piores secas da história do Pantanal: 1964, 1971 e 2021”, afirma.

El Niño e mudanças climáticas

Por outro lado, o fenômeno do El Niño, que aquece as águas do Pacífico Sul, chegou ao fim. Este ano registrou talvez o El Niño mais severo da história, relacionado às mudanças climáticas. Esse regime influenciou nos rios fluviais que impactaram o Sul do país de forma severa. Os acumulados históricos de chuva destruíram o estado que segue com dificuldades para salvar vidas. Parte do Rio Grande do Sul ficou sob água. Os mortos são no mínimo 148, sem contar centenas de milhares de desabrigados.

Essa chuva também está relacionada com as ondas de calor extremo que atingiram o Centro-Oeste e Sudeste do país, particularmente. O ano de 2023 foi o mais quente desde o início das medições nestas regiões. Além disso, grandes massas de ar quente impuseram bloqueis atmosféricos, impedindo as chuvas de avançarem sobre estas regiões, represando parte delas no Sul.

Fim do El Niño

A agência meteorológica Metsul lembra que este fenômeno chegou ao fim. Agora, as águas do Pacífico passam por um período de estabilidade. Então, a tendência ulterior é de entrada do La Niña. Um fenômeno reverso, que tem outras implicações. Particularmente relacionadas com as secas.

“O El Niño trouxe meses de chuva acima a muitíssimo acima da média no Rio Grande do Sul com grandes enchentes em setembro, novembro e agora em maio. Historicamente, o fenômeno costuma causar chuva extrema e inundações no território gaúcho nos meses de primavera do ano do seu início e no outono do ano seguinte”, informa a agência.

O La Niña

Um dos principais efeitos deste novo evento pode estar relacionado com uma estiagem na região Sul. Contudo, a instalação plena deste sistema climático deve ocorrer apenas a partir de meados do inverno, com reflexos plenos na primavera. “Não se antecipa La Niña antes do fim do outono climático (março a maio), mas no decorrer do inverno a La Niña deve ser declarada, possivelmente entre os meses de julho e agosto, embora a fase fria já fique evidente nas próximas semanas nos mapas de anomalia de temperatura do mar.”

A questão é qual será a intensidade deste evento. Em um período de mudanças climáticas é natural a cautela sobre possíveis desastres em qualquer sistema climático. Embora o La Niña apresente tendência de estiagem no Sul e Centro-Oeste, chuvas localizadas e com potencial lesivo não estão fora do mapa. Contudo, entra o risco de estiagem e crise hídrica.

“No Brasil, os efeitos do La Niña variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações”, completa o Metsul.