Crimes sem fim

Para analista, a guerra entre Israel e Palestina é culpa dos Estados Unidos

Ao longo de décadas, democratas ou republicanos adotaram políticas de descaso ou boicote à “solução de dois Estados” independentes e EUA renunciaram ao papel de mediar a paz

Eyad El Baba/Unicef
Eyad El Baba/Unicef
2018: israelitas mataram centenas de palestinos e feriram milhares; do lado sionista não houve um único soldado morto

São Paulo – Em artigo intitulado “A guerra Israel-Palestina é culpa de Washington”, publicado no site russo RT, o analista político e jornalista Robert Inlakesh traça um histórico da política de descaso ou boicote, dependendo das circunstâncias, dos Estados Unidos em relação a mediar a paz e trabalhar pela convivência pacífica de Israel e Palestina como dois Estados independentes.

Ele lembra que os norte-americanos e seus aliados ocidentais impõem sanções à Palestina há quase 17 anos. Segundo o analista, o processo de paz entre israelitas e palestinos, por uma “solução de dois Estados”, com a convivência de ambos, “independentes e mutuamente reconhecidos”, está de fato morto há cerca de duas décadas, com a última chance perdida ainda no governo de Barack Obama.

Sejam democratas, sejam republicanos, todos apoiam Israel incondicionalmente. Contudo, ninguém reconhece a responsabilidade histórica do próprio governo no ataque do Hamas no sábado (7) que desencadeou a guerra, avalia Inlakesh.

“Ao contrário de outras potências globais, como a Rússia e a China, os EUA nunca consideraram a ideia de dar ao Hamas a oportunidade de governar como Carter sugeriu. Em vez disso, todos os governos americanos recusaram-se a se envolver com o Hamas, considerando-o uma organização terrorista”, escreve. “Na verdade, o governo dos EUA considera todos os principais partidos ou movimentos políticos palestinos como terroristas, com exceção do braço principal da Fatah que controla parcialmente a Cisjordânia.”

Política de interesses e ignorância

Inlakesh lembra que, em 2006, as eleições legislativas realizadas nos territórios palestinos ocupados (Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental) resultaram em vitória inequívoca do Hamas. O governo americano decidiu então que iria sancionar Gaza e cortar a ajuda.

Depois, com o governo de Donald Trump, “Washington abandonou completamente a solução de dois Estados”, opina o analista.  “A questão do Estado palestino, que a ONU concorda que deveria ser resolvida através de uma solução de dois Estados, foi posta de lado como uma não-questão e a única moeda de troca dos palestinos, a normalização árabe-israelense, começou a ser retirada da mesa.”

Embora, segundo Inlakesh, em 2018 os partidos políticos palestinos tenham escolhido “esmagadoramente a luta não violenta, incluindo em Gaza”, houve um movimento de protesto em massa que durou cerca de um ano.  “A maioria dos manifestantes eram pacíficos, mas o que virou notícia foram os grupos relativamente pequenos de palestinos que cometeram sabotagem e agressão anti-israelense na cerca da fronteira.”

Como resposta, as forças israelitas mataram centenas de palestinos e feriram quase 10 mil, enquanto do lado sionista não houve “um único soldado ou civil morto e os atiradores israelitas tivessem como alvo mulheres, crianças, jornalistas, pessoas com deficiência e médicos, de acordo com um relatório da ONU sobre direitos humanos relativo às manifestações”.

Com Biden, erros e estupidez

Já sob o governo Biden, a solução de dois Estados também foi posta de lado e a situação palestina “foi ignorada como insignificante”, diz o analista. Biden preferiu apostar num acordo entre Arábia Saudita e Israel para sabotar a aproximação entre sauditas e Irã, mediada no início deste ano pela China.

“Biden decidiu tentar infligir um golpe mortal na causa palestina da criação de um Estado”, diz Inlakesh. “O que o Hamas acabou de fazer a partir de Gaza nunca teria acontecido se os EUA tivessem seguido uma abordagem racional para a região.”

Para o cientista político, com o conflito atual, não há normalização à vista, “o que significaria que a ofensiva do Hamas não só desferiu um golpe em Israel, mas também nos EUA (de Biden)”, que se vê envolvido em outro grave conflito além da Ucrânia. A Casa Branca se recusa a reconhecer o seu papel na violência e segue “com a mesma retórica e decisões políticas que levaram à guerra horrível que vemos hoje”, finaliza Robert Inlakesh.

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