Cúpula América Latina/Europa revive antigas divergências

Diferenças internas e externas envolvendo Malvinas, saída boliviana para o mar e embargo a Cuba marcaram presença no encontro

Dilma, o chileno Sebastián Piñera e a argentina Cristina Kirchner durante sessão de fotos da Cúpula Celac-UE (Foto: Casa Rosada/Divulgação)

São Paulo – A primeira reunião cúpula entre os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia, que chega ao fim hoje (27) em Santiago, Chile, serviu para requentar velhas pendências regionais envolvendo Cuba, Argentina, Bolívia e o próprio país anfitrião. Indiretamente, as petições acabaram se refletindo na declaração final do encontro. Já alguns discursos foram direto ao ponto.

“A Bolívia não esquece, não esquecerá, a Bolívia não se cala nem se calará até que regresse ao oceano Pacífico com soberania”, expressou na tribuna o presidente boliviano, Evo Morales, insistindo numa exigência históricas de La Paz: recuperar a saída para o mar que perdeu para os chiles na Guerra do Pacífico (1879-1883). Além de 400 km de litoral, a Bolívia perdeu cerca de 120.000 km2 de território para o vizinho. Após os enfrentamentos, as novas fronteiras foram definidas por um tratado firmado por ambas nações em 1904 – documento que Morales deseja invalidar.

Ao longo da administração da presidenta socialista Michellet Bachelet, entre 2006 e 2010, chilenos e bolivianos mantiveram uma agenda confidencial de 13 pontos para negociar o impasse. Contudo, as tratativas foram congeladas – e, segundo La Paz, regrediram – após a chegada do empresário Sebastián Piñera ao poder em Santiago.

Durante a cúpula da Celac-UE, Evo Morales comparou a situação da Bolívia, privada de portos marítimos, ao Panamá, que durante cem anos perdeu a soberania do Canal para os Estados Unidos, mas que hoje opera a rentável passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

O boliviano também aproximou a situação de seu país ao entrevero diplomático que a Argentina mantém com o Reino Unido pela soberania das Ilhas Malvinas – ou Falklands, para os britânicos. “Não é possível que a Inglaterra ainda seja dona das Malvinas. Chile tem que devolver o mar à Bolívia”, aproximou, fazendo menção a uma espécie de colonialismo externo e interno que ainda perdura na região.

Mas não foi só no discurso de Evo Morales que as “Malvinas Argentinas” apareceram na Cúpula Celac-UE. Eterna pauta de Buenos Aires nos encontros internacionais, a petição se refletiu indiretamente na declaração final, assinada por todos os países que assistiram à reunião. “Reafirmamos nossa decisão de apoiar todos os esforços para defender a igualdade soberana de todos os Estados, respeitar sua integridade territoria e independência política”, diz o documento. A Argentina perdeu as Malvinas para o Reino Unido após uma invasão em 1833, tentou reavê-las em 1982 declarando guerra a Londres mas foi derrotada.

Outro ressentimento antigo que reapareceu na Cúpula foi os pedidos – quase unânimes entre os países latino-americanos – pelo fim do embargo econômico a Cuba. “Rejeitamos firmemente todas as medidas coercitivas de caráter unilateral com efeito extraterritorial, que são contrárias ao direito internacional e às normas normalmente aceitas de livre comércio”, sustenta a declaração final. “Estamos de acordo que este tipo de prática representa uma grave ameaça ao multilateralismo”.

O encontro serviu ainda para o transpasso da presidência temporária da Celac, que até então estava com os chilenos. Daqui até a próxima reunião, a realizar-se em 2015, em Havana, o bloco será presidido pelo líder cubano, Raúl Castro.

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