Cristina Kirchner sobre caso YPF: “Não queremos facções em nosso país”

São Paulo – A presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, voltou a criticar a postura da empresa que atualmente administra a YPF, principal corporação do setor de petróleo, e […]

São Paulo – A presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, voltou a criticar a postura da empresa que atualmente administra a YPF, principal corporação do setor de petróleo, e ironizou as críticas à decisão de expropriar 51% das ações da companhia, privatizada na década de 1990.

Para ela, é preciso que o setor privado compreenda que só se pode crescer como sendo parte da nação. “Não há possibilidade quando as corporações esquecem estes conceitos, que existem aqui e em todo o mundo, e devem seguir existindo porque representam isso: interesses corporativos. Quando as corporações esquecem este fazer parte da nação elas se convertem em facções. E o que não queremos no país são facções”, afirmou ontem (20) durante discurso na província de Santa Cruz, no sul do país.

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Esta semana, o governo argentino anunciou a decisão de enviar projeto de lei ao Congresso para retomar o controle sobre a empresa, atualmente administrada pela espanhola Repsol. A participação acionária será dividida com as províncias e uma nova privatização precisará do aval de dois terços dos parlamentares. A operação suscitou críticas do governo espanhol e de organismos de defesa do livre-mercado.

Ontem, Cristina leu um trecho da Constituição da Espanha que aponta que os recursos naturais devem estar voltados aos interesses nacionais, reservando-se ao setor público o manejo daquilo que se considera estratégico. A presidenta minimizou a possibilidade de que o país europeu imponha uma taxação maior ao biocombustível argentino, afirmando que se tratava de uma antiga frente de lobby do setor privado que agora poderá se concretizar. “Qualquer que seja a decisão soberana que tome a Espanha, nós não vamos questionar”, disse. “Nós somos assim, somos gente de trabalho, mas fundamentalmente somos gente muito respeitadora da soberania dos países. Por isso somos tão cuidadosos defensores de nossa própria soberania e de nossas próprias decisões.”

Para Cristina, a retomada do controle da YPF dá fim à era de crises na Argentina. Ela lembrou que a origem das insatisfações dos trabalhadores na virada da década de 1990 para os anos 2000 foi o efeito da privatização da empresa. Fundada no começo do século passado, a companhia de exploração de petróleo e gás se converteu em uma integrante do imaginário de soberania argentina.

Vendida pelo ex-presidente Carlos Saúl Menem, rapidamente desmontou as atividades em várias cidades, provocando desemprego. Foi na cidade de Cutral Co, em Neuquén, que nasceu o movimento piqueteiro argentino. Insatisfeitos com a decadência da cidade após a diminuição das atividades da YPF, os habitantes passaram a organizar protestos que depois se espalhariam por toda a Argentina, culminando em dezembro de 2001 com a expulsão do presidente Fernando de la Rúa da Casa Rosada. 

A presidenta acredita que o controle pela Repsol fez com que o manejo estratégico da exploração voltada aos interesses nacionais foi deixado de lado. “Acredito que com esta recuperação da YPF talvez tenhamos terminado de pagar a história dos piqueteiros da Argentina, que saíram de verdade às ruas para brigar por um futuro e uma vida que lhes estavam roubando.”