Resposta internacional

Brasileiros ocupam as ruas de Lisboa em protesto contra anistia aos golpistas e pela prisão de Bolsonaro 

Ato no centro da capital de Portugal lança ‘Manifesto em Apoio da Democracia Brasileira’. Documento cobra punição aos terroristas em Brasília e conta com adesão de organizações, partidos e ativistas

Elisangela Rocha
Elisangela Rocha
Ato em defesa da Democracia, sem anistia, promovido pelo Coletivo Andorinha e Casa do Brasil, em Lisboa, reuniu ao menos 200 brasileiros e portugueses nessa quarta (11)

São Paulo – Contra a tentativa de golpe de Estado realizada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no último domingo (8), pelo menos 200 brasileiros e portugueses ocuparam, no final da tarde de ontem (11), o Largo Camões, no Chiado, centro de Lisboa, num ato de protesto e em defesa da democracia do Brasil. Com faixas e cartazes, os manifestantes cobraram a responsabilização dos envolvidos na invasão dos três poderes, em Brasília. E bradaram, por diversas vezes, a importância de não dar anistia aos bolsonaristas que atentaram contra o Estado democrático de direito. 

O protesto também reivindicou punição àqueles que incentivaram os ataques às instituição democráticas brasileiras, como o próprio ex-presidente Bolsonaro. Durante o ato, os brasileiros e portugueses defenderam sua prisão em resposta ao vandalismo no Palácio do Planalto, Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF). A manifestação foi convocada pela Frente Democrática Brasileira em Lisboa, o Coletivo Andorinha, um dos movimentos ativistas de brasileiros mais representativo em Portugal. 

“No exterior a nossa voz é muito amplificada e consegue fazer com que o assunto chegue ao Brasil”, justificou a representante do coletivo Samara Azevedo em entrevista ao site português Lusa. Para a brasileira, novos atos internacionais semelhantes serão necessários para alertar sobre os riscos que o país está correndo diante da sanha golpista de bolsonaristas. “Toda essa ideia de extrema-direita, do fascismo, e afronta, agressão e violência (…) não acabou com a saída de Bolsonaro”, observou. 

Foco nos financiadores

O que demandará, de acordo com Samara, “todo um trabalho político, cultural e educacional para a gente trazer a democracia para o Brasil com mais paz e tranquilidade”. A ativista, contudo, celebrou a reação da Justiça “mais contundente do que em outros momentos”. “Já foi pedido a prisão do secretário de Segurança Pública de Brasília”, lembrou ela, em referência a Anderson Torres. “Neste momento a Advocacia-Geral da União vai divulgar o nome de 100 empresas que estiveram envolvidas no financiamento (da invasão) e vai pedir a investigação dessas empresas”, acrescentou. 

O foco nos financiadores dos movimentos terroristas também foi cobrado pelo ator Antonio Grassi que protestava em defesa da democracia no Brasil. Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, ele destacou que todos os responsáveis pelos atentados devem ser punidos com rigor. E ressaltou que, ao longo dos últimos quatro anos, o governo Bolsonaro “tentou destruir as instituições e a cultura, mas o país resistiu”. Agora, de acordo com o ator, “os brasileiros (também) não vão se render aos golpistas”. 

Manifesto pela democracia

Durante o ato, nessa quarta, os manifestantes também lançaram o Manifesto em Apoio da Democracia Brasileira. O documento defende que os crimes cometidos em Brasília “precisam ser enfrentados nas esferas políticas e judiciais”. Assim como destaca apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Reforçamos nosso apoio à Democracia brasileira, ao governo democraticamente eleito e à responsabilização de todos os criminosos golpistas e terroristas”, diz um trecho do manifesto. 

“Nós, organizações, coletivos, instituições e cidadãos e cidadãs em Portugal estamos juntos ao povo brasileiro na defesa da Democracia no Brasil e repudiamos os ataques criminosos, antidemocráticos e terroristas contra a sede dos Três Poderes em Brasília”, prossegue.

Divulgado on-line, o documento conta com a assinatura de mais 47 organizações portuguesas, além de partidos políticos e mais de 400 pessoas. Entre as entidades que subscrevem o manifesto estão o Bloco de Esquerda, o partido ecologista Os Verdes, o SOS Racismo e a Solidariedade Imigrante – Associação para a defesa dos direitos dos Imigrantes (Solim).

Mundo condena terrorismo 

Ainda na segunda (9), em paralelo às manifestações em defesa da democracia e do voto popular, que tomaram dezenas de cidades no Brasil, brasileiros que vivem no exterior também convocaram atos na Alemanha, Argentina, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Suíça. 

O repúdio ao terrorismo bolsonarista também uniu diferentes líderes mundiais do oriente ao ocidente. Desde domingo, dezenas de chefes de Estado e de governo condenam o atentado à democracia e respaldam decisões anunciadas pelo presidente Lula. O papa Francisco citou nominalmente o Brasil em discurso perante o corpo diplomático do Vaticano, na ocasião, ao lamentar a violência no país.