Biden volta a dizer que Netanyahu ‘comete erro’, mas mantém aliança com Israel
De olho na opinião pública, que vem cercando o presidente dos EUA com protestos por restrições à assistência garantida pelo país a Israel, o presidente vem elevando o tom contra as estratégias militares israelenses
Publicado 10/04/2024 - 14h15
São Paulo – O presidente dos Estados Unidos Joe Biden voltou a dizer que as estratégias militares do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, são um “erro” em Gaza. Em entrevista nesta terça-feira (9) ao canal de televisão Univision, emissora de língua espanhola com sede nos EUA, o democrata voltou a endurecer o discurso contra o governo israelense.
“Acho que o que ele está fazendo é um erro. Não concordo com a estratégia de Netanyahu. (…) O que eu peço, o que os israelenses pedem, é um cessar-fogo. E que eles autorizem pelas próximas seis ou oito semanas um acesso total à entrega de comida e medicamentos em Gaza”, afirmou Biden sobre seu aliado no Oriente Médio.
As declarações consolidam uma mudança de orientação de Washington na guerra entre Israel e o Hamas. Desde o início do conflito, que completou seis meses neste domingo (7), o governo estadunidense, que é um dos cinco países que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, vinha barrando propostas de cessar-fogo. No entanto, o apoio do país a Israel – e por tabela ao massacre em Gaza, que já matou mais de 33 mil palestinos, sendo 75% crianças e mulheres –, vem trazendo cada vez mais prejuízos a Biden. De olho na reeleição, ele perde popularidade, especialmente entre os mais jovens, contrários à aliança com Israel.
Biden ‘indignado’
Biden também vem enfrentando há meses protestos de ativistas, muçulmanos e árabes-americanos, que cobram um cessar-fogo permanente em Gaza e restrições à assistência militar dos EUA a Israel. Na última semana, o presidente estadunidense, pela primeira vez, sugeriu que poderia condicionar sua ajuda a seu principal aliado à proteção a civis em Gaza. Em telefonema com Netanyahu, Biden teria incitado também um “cessar-fogo imediato” no território palestino, segundo a France Press.
O presidente estaria “indignado” com o bombardeio israelense que matou sete trabalhadores de organização humanitária que levavam alimentos a Gaza. Israel atribuiu o ataque a “um erro”, mas houve grande repercussão internacional. Biden considerou que Israel não faz “o suficiente” para proteger as organizações que ajudam a população civil em Gaza, submetida a uma situação humanitária catastrófica.
“Falei com todos, desde os sauditas, aos jordanianos e aos egípcios. (…) Eles estão preparados para transportar esses alimentos. E acho que não há desculpa para não atender às necessidades médicas e alimentares dessas pessoas. Isso deveria ser feito agora. (…) O que estou pedindo é que os israelenses simplesmente peçam um cessar-fogo e permitam, nas próximas seis, oito semanas, acesso total a total a todos os alimentos e medicamentos que entram no país”, afirmou Biden.
Mas apoio é mantido
Apesar das críticas, ainda hoje Israel é o estado que mais recebe ajuda externa dos EUA do que qualquer outra nação desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com informações da agência Reuters, o montante se mantém como principal mesmo com a diminuição de repasses para o financiamento de equipamentos militares à Ucrânia, em guerra com a Rússia há dois anos.
A postura envernizada dos EUA é refletida nas páginas de articulistas do país, como a do jornalista Bret Stephens, do The New York Times. Em coluna publicada ontem ele defendeu que o primeiro-ministro de Israel deixe o cargo para não comprometer os planos de destruição do Hamas. Segundo ele, a guerra deve continuar, mas minimizando os danos civis, o que não tem feito Netanyahu.
Mais conflitos
Em paralelo, o premiê israelense anunciou no início desta semana que já tem data para invadir Rafah. A cidade palestina na Faixa de Gaza é o último refúgio de milhões de civis, encurralados pelo massacre das forças sionistas. O Conselho de Segurança da ONU aprovou há duas semanas um cessar-fogo na região. Mas Israel demonstra não respeitar tratados internacionais. Ao contrário, o governo Netanyahu também esteve por trás de um ataque ao consulado em Damasco, na Síria, que matou 11 pessoas, incluindo sete membros da Guarda Revolucionária iraniana no dia 1°.
Nesta quarta (10), líderes de Irã e Israel voltaram a trocar ameaças. O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, voltou a prometer uma resposta ao atentado. Momentos depois, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, respondeu a Khamenei e o marcou em uma rede social. Na mensagem, o chanceler escreveu que “se o Irã lançar um ataque do próprio território, Israel vai responder e atacar o Irã”.
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Redação: Clara Assunção